Feriadão
Pensei em escrever um texto em homenagem a Luciano Pavarotti, mas a verdade é que nunca fui fã dele ou do estilo dele. Mesmo assim, quando ele veio a Porto Alegre em 1998 para uma apresentação exclusiva ao lado de Roberto Carlos, eu estava lá, cobrindo o show para o International Magazine. Assisti à entrevista coletiva, também. Pavarotti falava uma mistura de italiano, inglês e espanhol. Um dos jornalistas perguntou em italiano quanto o tenor iria receber pela apresentação. A princípio, respondeu que era para fins beneficentes. Depois, segundo foi publicado na Zero Hora do dia seguinte, ele teria dito: "Estamos falando de show business. Isso não é pergunta que se faça." Na hora, foi o que eu entendi, também. Mas depois, escutando novamente na fita, decifrei melhor. O que ele realmente falou foi: "no es su business", uma versão espanholada da expressão inglesa "it's none of your business", ou seja: não é da sua conta. Na coletiva não chegou a acontecer, mas em outras oportunidades, todos os brasileiros que o chamaram de "Pavarótchi" tiveram a pronúncia corrigida. Estranhamente, ele não se importava que o chamassem de "Lussiano", embora o correto fosse "Lutchano". Ele e Roberto Carlos fizeram uma bela interpretação da "Ave Maria" de Schubert, mas com exceção da Isto É e do International Magazine, todos os demais veículos informaram como sendo a de Gounod, inclusive a Globo nos créditos do especial que mostrou logo depois. As duas fotos acima foram tiradas por mim, mas estão com Marcelo Fróes, editor do IM e do Portal da Jovem Guarda. Oportunamente ele deve postar todas no Portal.
Terminei de ler o livro "John", de Cynthia Lennon. A primeira esposa de John Lennon tenta desfazer a imagem de "mulher desprezada" que se perpetuou nos anais da cultura Beatle. Ela fala do carinho com que John a tratava durante o namoro e os primeiros anos de casamento. Sim, o matrimônio foi precipitado por uma gravidez. Mas ela desmente a versão de que, sem a chegada inesperada de Julian, John nunca a teria desposado. Isso realmente é estranho, pois foi ela própria quem fez essa afirmação para Hunter Davies, que a publicou na biografia oficial lançada no Brasil com o título de "A Vida dos Beatles", em 1968. Em uma das reedições, Davies afirma que a declaração de Cynthia quase chegou a ser cortada da edição final, mas acabou entrando. Enfim, Cynthia tenta mostrar o lado romântico e atencioso de John e atribui sua mudança de comportamento às drogas. Foi a partir do momento em que começou a usar LSD que o guitarrista dos Beatles "saiu do ar" e passou a ignorá-la. Ela até mesmo tentou aderir ao ácido lisérgico para aproximar-se do marido, mas não conseguiu. Cynthia era uma menina conservadora e bem comportada da cidade de Hoylake, a oeste de Liverpool, e a única "esposa de Beatle" a ascender a essa condição antes de o grupo chegar à fama. Quando o círculo de amizades de John passou a incluir mulheres bonitas e famosas, ela sentiu-se insegura e fez plástica no nariz. Mas era tarde: John já estava envolvido com Yoko. Este é o segundo livro publicado por Cynthia (o primeiro chamou-se "A Twist of Lennon") e é o mais sincero e profundo dos dois. Ela fala também do relacionamento entre John e Julian e como todos lidaram com a morte estúpida de John em dezembro de 1980 em frente ao edifício Dakota.
Terminei um livro e já peguei outro: "The Beautiful Team - In Search of Pelé and The 1970 Brazilians", do inglês Garry Jenkins. Desde a infância ele é fã da Seleção Brasileira de 1970, que ganhou a Copa do Mundo no México. Ele veio ao Brasil no final dos anos 90 com o objetivo de entrevistar os dez craques sobreviventes do time titular, já que o nosso querido Everaldo faleceu num acidente em 1974. Jairzinho pediu dinheiro para dar um depoimento ("afinal, é um assunto profissional") e foi substituído por Paulo César Caju. Brito nunca estava em casa, sempre tinha "ido pescar", segundo sua esposa, o que levou o autor a concluir, ironicamente, que ele tinha ido caçar a baleia Moby Dick. Pelé, como Ministro dos Esportes, concedeu-lhe uma audiência rápida em Brasília. Todos os demais jogadores foram bastante solícitos e lhe deram longas entrevistas. Este livro está sendo útil também para aprender o jargão do futebol em inglês, ao menos da forma utilizada pelo autor.
Por fim, sou contra a mudança da ortografia do português para unificá-la à de Portugal. As palavras serão escritas de forma idêntica, mas aparecerão na tela no Brasil e no écran em Portugal. Os brasileiros seguirão acessando os arquivos enquanto os portugueses continuarão a aceder os ficheiros. O Brasil será sempre um país de garotos e rapazes e Portugal, de putos e gajos. Não há como unificar a cultura dos dois países, então viva a diferença.
Bom final de feriadão a todos!
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home