quinta-feira, novembro 03, 2005

Medo de avião

Ontem eu e minha namorada assistimos ao filme "Plano de Vôo", com Jodie Foster. Adoraria comentar a trama em detalhe, mas acabaria estragando surpresas. Só sei dizer que gostei. Tenho uma certa predileção por filmes de suspense em avião. O primeiro "Aeroporto" me decepcionou um pouco, pois a maior parte da ação acontece em terra. Mas "Aeroporto 75", "Aeroporto 77", "Força Aérea 1", "Turbulência" e outros no mesmo estilo – até mesmo um episódio da série "O Rei dos Ladrões" – me prenderam a atenção do começo ao fim. Alguns cheguei a ver mais de uma vez.

Só não sei explicar por que no começo eu não tinha medo de avião mas logo passei a ter. Não aquela fobia incontrolável que me impeça de embarcar. Adoro viajar e, se puder, com certeza viajarei mais vezes. Mas não consigo relaxar em avião. Dormir é praticamente impossível. Ler também não me apetece. Ao menor sacolejo, já fico inseguro, agarrando o braço da cadeira. E isso que nunca peguei turbulência forte, pelo menos não acordado. Já ouvi histórias de arrepiar.

Viajei pela primeira vez aos dez anos. Era um vôo Porto Alegre-Rio de Janeiro pela Sadia, que depois seria incorporada à Transbrasil. Fui bem tranqüilo por todo o percurso, sem medo. Três anos depois, aconteceu minha primeira viagem aos Estados Unidos. Também não houve problemas. Inclusive, na ida sentei numa poltrona não reclinável e dormi profundamente, sem a menor dificuldade. Na volta, me disseram que houve turbulência a ponto de alguns começarem a rezar, mas não vi nada. Estava adormecido como uma pedra.

Minha viagem seguinte seria em 1976, para Brasília. Ali, estranhamente, senti medo. E acho que a culpa pode ter sido exatamente desses filmes que eu tanto adoro. Eu tinha assistido a "Aeroporto 75" e "Sobreviventes dos Andes" e ficara bem impressionado. Desde então, nunca mais consegui viajar de avião com tranqüilidade. Fico o tempo todo sentado, com o cinto afivelado. E embora não desista de tentar, não consigo ler nem dormir. Não sei se a culpa foi dos filmes, mas passei a ter ao mesmo tempo medo e fascínio em relação a aviões. Adoro ver filmes como os que citei ou ler reportagens sobre seqüestros e acidentes aéreos (o site Air Disaster é bem impressionante, com vídeos, transcrições e gravações de caixas pretas), mas não quero nunca estar num deles.

Meu pai pilotou aviões pequenos no Exército, mas se borrava de medo dos grandes. Nas poucas vezes em que teve que embarcar em algum, criou coragem com a cervejinha. A ponto de um dia desembarcar em Brasília, reconhecer no aeroporto uma autoridade com quem detinha um certo grau de amizade e quase ser contido pelos seguranças ao se aproximar para um abraço efusivo. Eu nunca bebi em viagem de avião. Nem antes. Talvez ajudasse a dormir. Admiro dois amigos meus que voam por profissão. Um é piloto e o outro é comissário de bordo. Devem ter belas histórias para contar e um deles até já dividiu algumas comigo que mereciam ser publicadas. Como o dia em que resolveu fazer turismo na Tcheco-Eslováquia e se deu mal. Dos vôos, foram poucas as narrativas de incidentes maiores.


Em geral, quando embarco num avião, não imagino que vá acontecer qualquer tipo de acidente. Mas só a possibilidade de turbulência já me assusta. Já viajei aos Estados Unidos mais três vezes e não consegui dormir na ida ou na volta. Então eu rezo e ajudo a segurar o avião pelo braço da cadeira. Difícil saber se esse medo é causa ou conseqüência de meu gosto por filmes de suspense aéreo. É bem mais emocionante assistir a um drama de aviação na segurança de uma cadeira de cinema.