sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Imposto sobre pretensão

Na semana passada, encontrei em minha caixa postal um aviso de chegada de pequena encomenda com a solicitação de que eu comparecesse ao posto alfandegário do correio. Fui até lá, cheguei a colocar as mãos no DVD que havia comprado, mas não pude retirá-lo porque a mercadoria não veio acompanhada de fatura. Sem isso eles não teriam como saber o valor para taxação. Ficou combinado que eu imprimiria uma fatura do site da Internet e enviaria por fax. Foi o que fiz. Isso no dia 10.

Ingenuamente eu fui conferir na minha caixa postal no dia seguinte para ver se o DVD já havia sido liberado. E no outro dia. E no outro. E no outro. E assim compareci praticamente todos os dias até ontem, 17 de fevereiro. Nada. Hoje resolvi telefonar para o posto alfandegário para saber se por acaso eles não tinham recebido a fatura. Resumindo: o DVD ainda está lá. Parado. Desde o dia 10.
(P.S. - Mas no final deu tudo certo. Leiam mais acima, "Final feliz para o DVD".)

Já acho questionável essa taxação extorsiva de 60% sobre mercadorias importadas. Entendo que a indústria nacional tenha que ser protegida e blá blá blá, mas o que há de errado em eu querer comprar CDs e DVDs que não são lançados no Brasil? Quando envio encomendas para meus amigos colecionadores do exterior, eles recebem tudo sem imposto ou burocracia. Aqui, parece que o consumo de produtos estrangeiros é visto como algo pecaminoso. Onde já se viu querer comprar DVD importado? Tá pensando que é cidadão de Primeiro Mundo? Nasceu no Brasil, tem que penar! Olha o pobre coitado ali comprando pirataria de camelô a preço de banana e você querendo adquirir DVDs oficiais do estrangeiro. Ponha-se no seu lugar! Esse imposto de importação tem mais jeito é de penalidade, de multa, de castigo por tentar burlar as privações costumeiras do Terceiro Mundo. Como se antes de nascer tivéssemos contratado um plano de vida mais barato que não nos dá direito a certos privilégios. O Brasil estaria na classe econômica do planeta Terra.


Aliás, sobre essa lógica de defender a indústria brasileira, acho que o caso mais inusitado que aconteceu comigo foi quando comprei um CD da Ana Mazzotti. A Ana era daqui de Porto Alegre, lançou-se cantando em bailes com o grupo Desenvolvymento, até que chegou a lançar um LP bastante elogiado nos anos 70, com músicas inéditas (exceto a cover de "Feel Like Making Love", de Roberta Flack). Pois esse disco foi relançado em
CD e vinil na Inglaterra, pelo selo Whatmusic. Eu encomendei o CD e paguei imposto de importação sobre um disco de uma cantora da minha própria cidade. Algumas lojas alternativas já estão vendendo cópias piratas desse CD a preço acessível. Fazer o quê?

O pior é que eu já vi que não vou conseguir tocar o DVD que encomendei em meu DVD player. Ele está no sistema PAL europeu, que é totalmente incompatível com nossos equipamentos. Eu costumo observar esses detalhes e até fico indignado com quem se atrapalha e não percebe que o padrão de cores para vídeo pré-gravado, no Brasil, sempre foi o NTSC. Acontece que o
anúncio no site da Amazon dizia que o DVD era zona 1, compatível com aparelhos dos Estados Unidos e Canadá. Esses o meu player reproduz sem problemas. Claro que vou reclamar pela propaganda enganosa. Mas o custo e o incômodo de encaminhar a devolução seriam tão desgastantes que prefiro ficar com o DVD e pedir para alguém tirar uma cópia convertida para mim. (P.S. - Isso também deu certo no fim. Ver novamente "Final feliz para o DVD", mais acima.)

Certas coisas não são para o bico da gente, não adianta. A impressão que eu tenho é que, se eu namorar uma mulher muito bonita, terei de pagar imposto por excesso de areia no meu caminhão.