Minha história colorada
Um bom livro contando a história do Internacional ainda está por ser escrito. Os volumes publicados até agora estão mais para almanaques de variedades. "Histórias Coloradas" deve ser visto como um apanhado despretensioso de memórias esparsas. Uma comemoração colorada, sem a intenção de ser necessariamente um registro histórico. Imagino que todos os colorados que o leram devem ter pensado se não teriam também uma história para contar. Eu até teria algumas, como minha viagem ao Rio em 1971, em que fui no mesmo avião dos jogadores, fiquei no mesmo hotel, assisti a Inter e Botafogo no Maracanã (placar 0x0), depois voltei para o hotel de carona no ônibus da delegação. Para um menino de dez anos no auge do fanatismo, foi a glória. Mas se tivesse que escolher, contaria outra história que acho mais interessante.
Em 1975, meu pai era presidente do Clube do Comércio de Porto Alegre e estava pensando em trazer pela segunda vez Johnny Mathis para cantar no Clube. A primeira havia sido em 1973, bem no dia (ou no seguinte, não lembro ao certo) em que falecera o narrador Pedro Carneiro Pereira, em Tarumã. Pedro havia comprado uma mesa para ver o show e a solução encontrada de última hora foi rearranjar a disposição das mesas. Aquele show havia sido uma promoção conjunta com a RBS. Agora, meu pai tentava uma parceria com o Sport Club Internacional, para que o cantor se apresentasse no Clube e no Gigantinho. Detalhe: meu pai era conselheiro do Grêmio!
Em meio às negociações, surgiu um convite para jantar com a diretoria do Internacional no Saci, para depois assistir a um jogo do Campeonato Gaúcho na cabine do então Presidente Eraldo Herrmann. Meu pai me levou junto, pois sabia o quanto eu iria curtir aquilo tudo. No churrasco, tirei foto com Herrmann e fiquei sabendo que o centroavante Flávio estava voltando para o Inter. Durante a partida, impressionou-me a visibilidade da cabine. As gerais do Beira-Rio são muito baixas, as arquibancadas são muito altas, mas as cabines estão no ponto médio exato para uma perfeita visão do campo. Não lembro com quem o Inter jogou, mas venceu.
Depois da partida, fomos com a diretoria para dentro do vestiário. O primeiro que avistei foi Figueroa, dizendo com aquele seu sotaque inesquecível: "Sacanage, né?" Não lembro o que tinha acontecido no jogo para suscitar aquele comentário. Naquela época, aos 14 anos, eu já não me interessava tanto por autógrafos de jogadores de futebol. Mesmo assim, meu pai tomou a iniciativa de pedir para mim a assinatura do técnico Rubens Minelli. Quando ele estava começando a falar com o treinador, surgiu um repórter de fones de ouvido e microfone na mão e falou:
- Dr. Ivéscio Pacheco, com licença!
E entrevistou Minelli. Mas fiquei surpreso de ele saber o nome do meu pai. Depois perguntei como o repórter o conhecia e meu pai respondeu:
- Tu não queres te convencer que o teu pai é uma pessoa conhecida! Aquele ali era o Lasier Martins.
Eu admirava o trabalho do meu pai como Presidente do Clube do Comércio e também Juiz do TRT, do qual viria a ser Presidente, mas não percebia que isso o tornava uma pessoa conhecida da imprensa. Difícil para ele foi, no outro dia, explicar a seus amigos gremistas o que ele, conselheiro do Grêmio, estava fazendo no vestiário do Internacional! No fim o Inter trouxe Johnny Mathis para o Gigantinho, mas sem a participação do Clube do Comércio. Pra mim ficou a lembrança do dia em que eu jantei com a diretoria do Inter, assisti a um jogo da cabine, entrei no vestiário dos jogadores e descobri que o meu pai era famoso.
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