The book is still on the table
Uma notícia que está causando um certo frisson entre roqueiros tupiniquins (leiam clicando aqui) é a de que o produtor americano Jack Endino criticou os grupos brasileiros que cantam em inglês. Isso depois de escutar uma música do grupo paraibano The Noyzy. Ele postou uma mensagem curta e grossa no Facebook:
"Bandas brasileiras! Por que vocês cantam em inglês? Nunca consigo entender uma palavra!"
Por mais que alguns ranjam dentes com esse recado, a verdade é que ele está apenas dizendo o óbvio. Qualquer produtor estrangeiro teria a mesma reação ao ver essa febre recorrente e inexplicável de brasileiros cantando em inglês. Porque realmente não faz sentido. As letras são cheias de erros, a pronúncia em geral é ininteligível, mas a turma insiste. Enquanto as opiniões ficam "em casa", parece que está tudo bem. Aí surge alguém de fora para colocar o dedo na ferida e pronto, ficam todos ofendidinhos.
E nem foi o primeiro caso. Vejam esta nota publicada na Bizz de agosto de 1996:
"CANTE EM PORTUGUÊS!!!"
Palavras de Jay Ziskrout, o cara que fundou a Epitaph, a gravadora punk de LA que sacodiu o mercado fonográfico americano. Responsável também pelo estouro do Offspring, ele esteve no Brasil atrás de grupos esquisitos que cantem em português. À frente de um novo selo, o Grita!, especializado em maluquices cucarachas, Jay já contratou os espanhóis Cérebros Exprimidos e quer mais. Gente boa, o cara foi o primeiro baterista do Bad Religion, fala sem problemas sobre a ida do Offspring para a Sony. "Na verdade, oferecemos mais dinheiro do que eles, mas a banda achou que não iria ser prioridade na Epitaph e preferiu ir para a major".
Tomando aulas de português semanalmente, Jay finaliza mandando um recado com as palavras que aprendeu. "É ridículo bandas brasileiras cantando em inglês. Fenômenos como o Sepultura acontecem de dez em dez anos. Foda-se o Sepultura! Seja você mesmo!!!", diz, enfático, e dá o endereço de contato: Grita! - PO BOX 1216, Murray Station New York, NY 10156 - USA.
Na verdade eu já me incomodava com essa mania desde os anos 80. O sucesso do Sepultura criou a falsa ideia de que o mercado internacional está aberto para bandas brasileiras gravando em inglês. Aí vem um produtor estrangeiro para cá e não entende nada - em todos os sentidos da expressão. Para quem exatamente cantam esses incautos? Não dominam o idioma o suficiente para criar boas letras, cometem erros aos quilos e têm uma pronúncia horrorosa. Onde pretendem chegar? Em geral, ficam marcando passo. Mas teimam em continuar.
Em 1996, alguns meses antes de a nota acima ser publicada na Bizz, escrevi um texto sobre esse assunto para o International Magazine. Intitulava-se "The book is on the table". Talvez por não acompanhar tão de perto a cena independente, pensei que essa equivocada tendência estivesse superada. Pois agora vejo que não. E segue provocando as mesmas reações em produtores estrangeiros. Passados 19 anos, "the book is still on the table". Lamentável.
"Bandas brasileiras! Por que vocês cantam em inglês? Nunca consigo entender uma palavra!"
Por mais que alguns ranjam dentes com esse recado, a verdade é que ele está apenas dizendo o óbvio. Qualquer produtor estrangeiro teria a mesma reação ao ver essa febre recorrente e inexplicável de brasileiros cantando em inglês. Porque realmente não faz sentido. As letras são cheias de erros, a pronúncia em geral é ininteligível, mas a turma insiste. Enquanto as opiniões ficam "em casa", parece que está tudo bem. Aí surge alguém de fora para colocar o dedo na ferida e pronto, ficam todos ofendidinhos.
E nem foi o primeiro caso. Vejam esta nota publicada na Bizz de agosto de 1996:
"CANTE EM PORTUGUÊS!!!"
Palavras de Jay Ziskrout, o cara que fundou a Epitaph, a gravadora punk de LA que sacodiu o mercado fonográfico americano. Responsável também pelo estouro do Offspring, ele esteve no Brasil atrás de grupos esquisitos que cantem em português. À frente de um novo selo, o Grita!, especializado em maluquices cucarachas, Jay já contratou os espanhóis Cérebros Exprimidos e quer mais. Gente boa, o cara foi o primeiro baterista do Bad Religion, fala sem problemas sobre a ida do Offspring para a Sony. "Na verdade, oferecemos mais dinheiro do que eles, mas a banda achou que não iria ser prioridade na Epitaph e preferiu ir para a major".
Tomando aulas de português semanalmente, Jay finaliza mandando um recado com as palavras que aprendeu. "É ridículo bandas brasileiras cantando em inglês. Fenômenos como o Sepultura acontecem de dez em dez anos. Foda-se o Sepultura! Seja você mesmo!!!", diz, enfático, e dá o endereço de contato: Grita! - PO BOX 1216, Murray Station New York, NY 10156 - USA.
Na verdade eu já me incomodava com essa mania desde os anos 80. O sucesso do Sepultura criou a falsa ideia de que o mercado internacional está aberto para bandas brasileiras gravando em inglês. Aí vem um produtor estrangeiro para cá e não entende nada - em todos os sentidos da expressão. Para quem exatamente cantam esses incautos? Não dominam o idioma o suficiente para criar boas letras, cometem erros aos quilos e têm uma pronúncia horrorosa. Onde pretendem chegar? Em geral, ficam marcando passo. Mas teimam em continuar.
Em 1996, alguns meses antes de a nota acima ser publicada na Bizz, escrevi um texto sobre esse assunto para o International Magazine. Intitulava-se "The book is on the table". Talvez por não acompanhar tão de perto a cena independente, pensei que essa equivocada tendência estivesse superada. Pois agora vejo que não. E segue provocando as mesmas reações em produtores estrangeiros. Passados 19 anos, "the book is still on the table". Lamentável.
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