domingo, agosto 05, 2007

Falcões e patos

Alexandre Pato foi embora. Depois de pouquíssimos jogos pelo Internacional. Sempre que um jogador de destaque sai de Inter ou Grêmio para algum time europeu, eu lembro do Falcão. Quando ele foi para o Roma em 1980, houve uma comoção generalizada na imprensa esportiva de todo o Brasil. A revista Placar colocou na capa: "Incrível: venderam nosso maior jogador!" Dentro, um texto em tom de editorial sob o título "Veste a 5, Asmuz!" crucificava o então presidente do clube por vender o craque. No Correio do Povo, Milton Jung escreveu uma crônica melancólica, dizendo que, por algum tempo, o futebol gaúcho perderia a graça. "Mas depois a gente acostuma".

O incrível é que Falcão ficou na equipe profissional por mais de cinco anos. Ele esteve presente nos três títulos nacionais do Inter nos anos 70: 75, 76 e 79. E nós, colorados, achávamos que ele nunca sairia. Ou talvez somente quando já não tivesse o mesmo brilho. Hoje pode parecer ingenuidade, mas na época era normal. Os jogadores da Seleção eram todos de times brasileiros. Já havia jogadores no exterior, mas não os melhores. O futebol brasileiro era tão bom que podia exportar, digamos, o "excedente". E já estava bom demais para os estrangeiros. Mas os craques ficavam.

Depois de Falcão, foi a vez de Zico. E uma campanha do Dia da Secretária mostrou o patrão adormecendo e sonhando que a secretária havia sido vendida para a Itália. Quando ele acordava e via que ela ainda estava ali, se abraçava a seus pés. Depois o publicitário idealizador da campanha disse que se inspirou na venda de Zico.

Bons tempos. Bons tempos em que tínhamos o melhor futebol brasileiro aqui mesmo, no Brasil. O pobre presidente José Asmuz foi execrado por vender Falcão ao Roma, mas hoje pode ser visto como um visionário. Ou quem sabe não foi ele o culpado por tudo isso. Lançou a moda. Hoje um jogador se destaca e a gente já sabe que é só uma questão de tempo até que ele vá embora. Ninguém se estressa, ninguém reclama, não há mais editoriais furiosos ou melancólicos na imprensa esportiva, simplesmente nos resignamos e desejamos boa sorte ao jogador em seu novo clube.

Definitivamente, os tempos mudaram. Talvez por isso eu tenha me desinteressado de futebol.