São Paulo
Antigamente acreditava-se que o mundo acabava no Oceano Atlântico. Quem navegasse muito além do litoral corria o risco de despencar em uma misteriosa queda d'água até o infinito. Já nos tempos atuais é um pouco diferente. A Internet mudou a situação para melhor, mas já houve uma época em que eu encomendava livros estrangeiros em "importadoras" de Porto Alegre para depois ter a resposta: "não tinha em São Paulo." Logo, para o comércio de Porto Alegre, o mundo acaba em São Paulo. E provavelmente começa no Paraguai.
Mas não só isso. Certa vez telefonei para uma renomada assistência técnica da capital gaúcha. Expliquei que tinha um televisor Toshiba cuja imagem estava começando a falhar e perguntei se eles consertavam. Sim, consertavam. Ainda um tanto incrédulo, pedi que viessem buscar o aparelho. A partir da data prometida para entrega, fui enrolado por quase cinco dias na base do "só no final da tarde", "só amanhã pela manhã" e assim por diante, até que perguntei: "Afinal, o que está havendo?" Aí fui informado de que o meu modelo era importado e, pra consertar, "só em São Paulo". O mesmo aconteceu quando levei minha máquina fotográfica Minolta para reparos. A despeito da arrogância do gaúcho, quando percebemos que não temos competência para fazer alguma coisa, dizemos que "só em São Paulo" para resolver.
Nem é preciso dizer que fui criando um certo fascínio por essa terra abençoada em que tudo se acha e tudo se conserta. Quando finalmente conheci a cidade, entendi melhor. São Paulo é tudo isso e muito mais. É uma cidade enorme e complexa, difícil de ser imaginada por quem só viveu em Porto Alegre. Como disse um amigo que mora lá, "quando se quer ir a um show ou peça de teatro, às vezes a distância é tão longa que a gente acaba desistindo". Exatamente por isso, quando se está para ir a São Paulo, não se pode contar para ninguém. Sempre tem alguém que quer alguma coisa que "só tem em São Paulo". E pensa que é uma cidade como Porto Alegre, em que se vai a qualquer lugar em no máximo meia-hora com dez reais de táxi.
Há quem suponha que Nova York é parecida com São Paulo. Eu, que tive o privilégio de conhecer as duas metrópoles, acho-as bem diferentes. Nova York tem espaços, tem verde, tem clareiras. São Paulo, até onde a vista alcança, é só prédios e poluição. Que me perdoem os meus amigos de lá, mas é a imagem que ficou para mim. Alguns moradores concordam e sonham em um dia sair de lá. O paulistano que passa um tempo em Porto Alegre, por exemplo, se apaixona e não quer voltar mais. Já o mesmo não acontece com o carioca, que sente falta da praia e da vida noturna.
Considerando tudo isso, a barbárie que se instaurou em São Paulo desde sexta-feira ganha dimensões ainda mais incompreensíveis. Como os bandidos conseguiram dominar tão rápido uma cidade daquele porte? E como o Governador ainda pôde hesitar em aceitar ajuda do Governo Federal? O caos deixou o país inteiro em estado de alerta. Espero que meus amigos que lá residem, que não são poucos, estejam todos bem. Nesta hora é impossível o gaúcho não desejar que também pesadelos como esse ocorram "só em São Paulo".
Mas não só isso. Certa vez telefonei para uma renomada assistência técnica da capital gaúcha. Expliquei que tinha um televisor Toshiba cuja imagem estava começando a falhar e perguntei se eles consertavam. Sim, consertavam. Ainda um tanto incrédulo, pedi que viessem buscar o aparelho. A partir da data prometida para entrega, fui enrolado por quase cinco dias na base do "só no final da tarde", "só amanhã pela manhã" e assim por diante, até que perguntei: "Afinal, o que está havendo?" Aí fui informado de que o meu modelo era importado e, pra consertar, "só em São Paulo". O mesmo aconteceu quando levei minha máquina fotográfica Minolta para reparos. A despeito da arrogância do gaúcho, quando percebemos que não temos competência para fazer alguma coisa, dizemos que "só em São Paulo" para resolver.
Nem é preciso dizer que fui criando um certo fascínio por essa terra abençoada em que tudo se acha e tudo se conserta. Quando finalmente conheci a cidade, entendi melhor. São Paulo é tudo isso e muito mais. É uma cidade enorme e complexa, difícil de ser imaginada por quem só viveu em Porto Alegre. Como disse um amigo que mora lá, "quando se quer ir a um show ou peça de teatro, às vezes a distância é tão longa que a gente acaba desistindo". Exatamente por isso, quando se está para ir a São Paulo, não se pode contar para ninguém. Sempre tem alguém que quer alguma coisa que "só tem em São Paulo". E pensa que é uma cidade como Porto Alegre, em que se vai a qualquer lugar em no máximo meia-hora com dez reais de táxi.
Há quem suponha que Nova York é parecida com São Paulo. Eu, que tive o privilégio de conhecer as duas metrópoles, acho-as bem diferentes. Nova York tem espaços, tem verde, tem clareiras. São Paulo, até onde a vista alcança, é só prédios e poluição. Que me perdoem os meus amigos de lá, mas é a imagem que ficou para mim. Alguns moradores concordam e sonham em um dia sair de lá. O paulistano que passa um tempo em Porto Alegre, por exemplo, se apaixona e não quer voltar mais. Já o mesmo não acontece com o carioca, que sente falta da praia e da vida noturna.
Considerando tudo isso, a barbárie que se instaurou em São Paulo desde sexta-feira ganha dimensões ainda mais incompreensíveis. Como os bandidos conseguiram dominar tão rápido uma cidade daquele porte? E como o Governador ainda pôde hesitar em aceitar ajuda do Governo Federal? O caos deixou o país inteiro em estado de alerta. Espero que meus amigos que lá residem, que não são poucos, estejam todos bem. Nesta hora é impossível o gaúcho não desejar que também pesadelos como esse ocorram "só em São Paulo".
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