Sílvio Santos
Sempre que critico Big Brother, Ratinho e outros programas de TV que não me atraem em absoluto, faço a ressalva de que não me considero um telespectador elitista. E invariavelmente lembro do Sílvio Santos, que vi muitas vezes e, confesso, me diverti bastante. Eu apreciava não apenas o desafio do "Qual é a música" (nos anos 1970 e começo da década seguinte eu conseguia acertar várias músicas, hoje não conseguiria mais), mas também as situações que se criavam, por exemplo, no "Namoro na TV" e suas variações.
Se não me engano chamava-se "Quer namorar comigo" um quadro em as mulheres iam ao programa porque alguém que elas conheciam queria pedi-las em namoro. Elas não sabiam quem era, mas compareciam cheias de esperança de que fosse algum príncipe encantado. Quando o sujeito aparecia, a gente já via a decepção na cara delas. Uma delas disse: "Por que você não me falou direto?" Em outras palavras, por que me fez vir até aqui para pagar esse mico? Mas ela foi, né? Torcendo para que o admirador fosse alguém em especial.
No já citado "Qual é a música", lembro que Ronnie Von se destacou em 1977 vencendo em várias semanas sucessivas. Sua presença no programa revitalizou sua carreira e também garantiu a Sílvio Santos pontos a mais no Ibope, superando a audiência do quiz show "8 ou 800", que a Globo apresentava no mesmo horário. Ronnie já havia saído no dia 25 de setembro de 1978, quando o gaúcho Hermes Aquino participou, mas não conseguiu derrotar o então vencedor Sílvio Brito. (Casualmente, nesse mesmo dia, o Grêmio sagrou-se campeão gaúcho, quebrando uma sequência de oito títulos do Inter. Mas não mudemos de assunto...)
Sílvio sabia ser carismático quando queria, mas também tinha um lado debochado que às vezes passava dos limites. Testemunhei várias ocasiões em que ele se divertiu às custas de participantes de seus quadros, chegando a humilhá-los (como já comentei aqui). Por isso, nesse ofício, eu preferia o Gugu. Augusto Liberato parecia ter mais empatia com as pessoas simples da plateia. Ele era aquele menino que sempre quis apresentar um programa de auditório e um dia realizou seu sonho. Até sua eventual breguice passava autenticidade. Ele era "aquilo ali mesmo".
Mas Sílvio Santos deixou sua marca e entra para a história como um dos maiores personagens da TV brasileira. E as homenagens que vem recebendo no Facebook esbarram em algumas contestações. Sim, ele estava alinhado com os governos militares dos anos em que não podíamos votar para presidente. Mas não se poderia esperar outra postura de alguém que recebeu concessões de canais de televisão. E ele retribuía com o programete "A Semana do Presidente". Ajudou amigos, lançou Jô Soares como entrevistador, ameaçou a hegemonia da Globo ao mesmo tempo em que assumia estar em segundo lugar na audiência e alegrou muita gente com seu sorriso. E tinha o mesmo aniversário que eu. Eu nasci no dia em que ele completou 30 anos.
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