sexta-feira, dezembro 30, 2011

Teclado

Nunca fui exatamente um bom datilógrafo. Errava muito e, com isso, perdia tempo apagando e corrigindo. O mecanismo de correção da minha Práxis eletrônica facilitava bastante, mesmo assim não era recomendável abusar do recurso. Sem falar no martírio que era consertar uma letra mal teclada no trabalho, com folhas carbonadas.

Por outro lado, a possibilidade de digitar no computador foi uma libertação para mim. Agora posso errar à vontade, pois os erros, se houver, são corrigidos em uma fração de segundo. Como digitador, acho que sou razoável. Teclo com relativa rapidez, olhando para a tela.

Mas, na semana passada, tive uma experiência ingrata. Eu nunca uso o teclado do notebook, pois acho-o muito apertado e incômodo. Sempre utilizo um teclado externo. E, mesmo nesses casos, sou chato e exigente. Até agora, minha preocupação era encontrar teclas que cedessem de forma natural à ponta dos dedos. Algumas são "duras", parecendo obedecer contra a vontade, como se ainda tentassem resistir aos toques.

Só que, desta vez, foi pior: na pressa, comprei um teclado diferente dos que costumava usar. Neste, as teclas não estavam onde eu esperava encontrá-las! Algum "soldadinho do passo certo" decidiu projetar um teclado diferente de todos os outros. Sim, era o padrão "qwerty", mas com uma disposição ligeiramente alterada, principalmente no posicionamento das teclas especiais. Então eu tinha que teclar com o cuidado e a lentidão de quem caminha de pés descalços por um terreno irregular, olhando onde pisa. Errei várias vezes, chegando mesmo a apagar sem querer trechos inteiros (sendo salvo pelo Control+Z). Lá pelas tantas fiquei tão estressado que tinha vontade de jogar o teclado no lixo!

Talvez se faça necessária uma explicação, aqui. Eu costumo fazer um uso intenso do teclado, escrevendo sempre por extenso, com todos os acentos, vírgulas, espaços, letras maiúsculas e minúsculas. Nunca abrevio nada, nem mesmo em chats. Aliás, acho que nem ao mandar torpedinhos por celular, embora ali eu dispense os acentos. Às vezes me entusiasmo tanto escrevendo que chego a esquecer que o teclado existe. É como se as palavras saíssem diretamente de minha cabeça para a tela.

Vai daí que teclado, pra mim, é como calçado: tem que ser confortável, resistente e de pisada natural. Você não usaria um sapato apertado para caminhar longas distâncias, certo? Pois eu gosto de ir longe e rápido quando digito. Não posso perder tempo "brigando" com as teclas.

Nem é preciso dizer que aposentei meu teclado novo com apenas uma hora de uso. Já providenciei outro, este sim, com o formato ao qual estou acostumado. E segue o baile.

P.S.: Feliz Ano Novo a todos os visitantes do Blog! Que em 2012 as teclas estejam todas onde esperamos encontrá-las, cedam suavemente ao toque e sirvam para escrever uma história bem mais bonita do que em 2011!

sexta-feira, dezembro 23, 2011

O Natal e a fé


Amigos, hoje vou fazer algo que não lembro de ter feito antes aqui no Blog: vou repetir a publicação de um texto. Eu poderia simplesmente indicar o link, mas prefiro que a mensagem seja replicada tal e qual, pois entendo que é pertinente. O que eu escrevi no Natal de 2004, o primeiro ano do Blog, continua válido. E diz exatamente o que eu gostaria de dizer agora.

Um dia desses eu estava conversando com um amigo e surgiu o assunto religião. Ele me confessou que é ateu, mas que nos últimos tempos algo parecia conduzi-lo à busca de uma referência mística. É curioso que a maioria dos agnósticos que eu conheço são pessoas extremamente inteligentes, indivíduos acostumados a procurar por si mesmos as respostas e a só acreditar no que conseguem entender por inteiro. Mas se uma pessoa inteligente tiver sensibilidade, se for alguém com um lado afetivo acentuado, acabará entendendo Deus de outras formas que não puramente intelectiva. E isso parecia estar começando a acontecer com meu amigo.

Eu não me considero a pessoa certa para converter ninguém. Não saberia explicar como eu sinto Deus, assim como também tenho dificuldade de verbalizar meu conceito de amor e outros sentimentos. Para convencer um ateu eu teria que apresentar uma prova e isso eu não tenho. Pelo menos não do tipo que ele quereria. Acredito que as pessoas que se convertem não o fazem porque lhes foram apresentadas evidências ou argumentos, mas por uma transformação interior. Claro que induzida por estímulos externos, mas a mudança tem que partir de dentro.

O Natal pode ter seu lado comercial, mas isso não pode ser usado como pretexto para que não o festejemos de coração, como o aniversário de Cristo. Os Natais da minha infância foram todos ótimos. Só na adolescência vim a saber que meu pai não gostava de Natal. Ele tinha um trauma que nunca explicou ou assumiu, talvez porque sua família passou dificuldades e ele nunca pôde ganhar presentes como os que ele mesmo e a minha mãe me davam. Mas nem por isso eu deixei de ter os meus Natais, o meu Papai Noel e a minha fé cristã. Meus pais me passaram isso. Me explicavam Deus como o Velhinho lá em cima que tudo podia fazer, se quisesse. Hoje a minha percepção de Deus é mais profunda, mas até isso tenho certeza que minha família me passou com o afeto. Não só os meus pais, mas também a minha irmã, que cuidou de mim e me ensinou minha primeira oração: "Anjinho me guarda, anjinho me guia, toda esta noite e amanhã todo o dia."

E o meu anjinho está me guardando até hoje. O mundo é complicado, a gente às vezes fica sabendo de coisas que parecem tentar abalar a nossa fé. Mas não temos o direito de esperar que Deus resolva tudo num passe de mágica. Temos que fazer a nossa parte. Eu sou pequeno demais para tentar convencer alguém da existência de Deus. O máximo que posso fazer é rezar e tentar transmitir a minha fé nas minhas ações, nos meus exemplos. Tentar ser correto. Perdoar... ah, como é difícil perdoar! Perdoar de verdade, como se a mágoa nunca tivesse acontecido. Amar os inimigos... Será possível isso? Mas a gente tem que tentar.


A todos os visitantes do meu blog, um Feliz Natal!

terça-feira, dezembro 20, 2011

Vídeos entrando depois

Vocês devem ter notado que os vídeos de Hermes Aquino, Erasmo Carlos e agora Mandrialis com Nélson Coelho de Castro foram incluídos a posteriori nos respectivos tópicos. Estou usando uma máquina com mais recursos para registrar as imagens em alta definição. Em compensação, a edição e o processamento ficaram mais trabalhosos. Vai ser difícil eu conseguir montar um longo vídeo como fiz com Alice Cooper, por exemplo, a menos que volte a usar a pequena Sony velha de guerra para essa finalidade.

domingo, dezembro 18, 2011

Erasmo mantém o pique

Por mais canções românticas que já tenha composto com Roberto, por mais que os anos lhe marquem o rosto, Erasmo sempre faz questão de se apresentar nas entrevistas como um roqueiro. Roqueiro seminal, da gema, um dos fundadores do rock brasileiro. Ao abrir seu show de ontem, em Porto Alegre, no teatro do Bourbon Country, com uma versão turbinada de "Kamasutra", ele mais uma vez reivindica esse título. Acompanhado de uma banda jovem, tendo como base os três integrantes do grupo Filhos da Judith, o Tremendão dá ao público o que ele quer – canções velhas e conhecidas – mas sem abrir mão de sua postura rebelde. E assim se ouvem "Sou Uma Criança, Não Entendo Nada", "Filho Único", "Mulher (Sexo Frágil"), "Minha Superstar", "Gatinha Manhosa", "Sentado à Beira do Caminho", "Vem Quente Que Eu Estou Fervendo", "É Proibido Fumar", "Quero Que Vá Tudo Pro Inferno", "Pega na Mentira" e "Festa de Arromba". Há também um momento mais intimista em que Erasmo canta um medley de suas parcerias românticas com Roberto, acompanhado somente do tecladista.

Simpático e carismático, o músico conversou bastante com o público, sempre com bom humor. Um dos instantes mais hilários da noite foi o relato de Erasmo antes de cantar "Panorama Ecológico". Ele disse mais ou menos o seguinte: "Nos anos 70, quando eu e o Roberto começamos a compor músicas sobre preservação da natureza, a gravadora não gostou. As mulheres querem ouvir músicas românticas, ninguém quer saber das baleias. Baleia não compra disco! Anos depois, quando o Sting e o Bono Vox começaram a dizer the world rldnorln... [manda ver um impagável 'embromation'], aí as pessoas prestaram atenção e disseram: é mesmo, a gente tem que se preocupar com o mundo!"

Outro destaque da noite foi "É Preciso Saber Viver" com participação do quinteto de cordas da PUC de Porto Alegre. O telão ao fundo do palco valorizou bastante o visual do show, com imagens concretas e abstratas, inevitavelmente concluindo com alusões aos velhos e bons tempos da Jovem Guarda. Uma surpresa foi quando, durante a apresentação de "Cover", apareceu no palco um sósia de Roberto Carlos, distribuindo rosas e tudo. Ah, sim, o show se chama "Sexo e Rock and Roll" combinando os nomes dos dois últimos CDs de Erasmo. O rock sempre esteve presente em seu trabalho. Já a celebração do sexo se manifestou nas canções do seu álbum mais recente, entre elas "Apaixocólico Anônimo" e a já citada "Kamasutra". Erasmo não perdeu a forma. Com 50 anos de carreira, ainda monta uma apresentação vibrante e incendiária, agradando a várias gerações de fãs.


Adivinhem que música ele estava cantando?






Aqui o vídeo da apresentação de "É Preciso Saber Viver" com o Quinteto de Cordas da PUC. É possível que nem todos conheçam o trecho que diz: "Mas se você caminhar comigo / seja qual for o caminho eu sigo / não importa aonde eu for / eu tenho amor, eu tenho amor". Esses versos constavam na gravação original dos Vips, de 1968, e também são ouvidos ao final do filme "Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa" nas vozes de Roberto, Erasmo e Wanderléa. Depois Roberto regravaria a música para o seu compacto de 1974 deixando de fora essa parte, talvez para não desvirtuar a mensagem "ajuizada" da letra. Em outras palavras: nem por amor a gente deve sair do bom caminho.

sábado, dezembro 17, 2011

Verissimo na Playboy

A última Playboy brasileira traz uma entrevista com Luis Fernando Verissimo. O entrevistador começa dizendo que ele é um dos escritores mais citados na Internet e Verissimo interrompe dizendo que "a maior parte desses textos não é minha". Mas a afirmação mais incrível foi esta:

Também tem muita gente que fica brava quando eu digo que o texto não é meu: "Não? Como assim?!? É seu, sim! Foi você que escreveu!"

Eu e outros fãs do cronista já enfrentamos esse tipo de reação por diversas vezes. Esta é uma faceta curiosa do ser humano que eu descobri na Internet: a relutância em ver suas crenças desfeitas, mesmo diante de provas. Não é raro alguns se ofenderem. Deve ser algum trauma de infância associado ao Papai Noel. Mas duvidar do próprio autor chega às raias da burrice!

quarta-feira, dezembro 14, 2011

A volta de Hermes Aquino

Sim, o que os fãs tanto sonhavam finalmente aconteceu. Ontem, depois de mais uma edição do Sarau Elétrico no Bar Ocidente, em Porto Alegre, a canja musical ficou por conta de Hermes Aquino (de boina nas fotos). E, embora não tenha lembrado de anunciar durante a apresentação, ele avisou que fará show novamente no dia 18 de janeiro no Santander Cultural. Senhoras e senhores, o criador de "Nuvem Passageira" está retornando aos palcos. A julgar pelo entusiasmo do público, é uma volta triunfal.
A noite começou com o tradicional Sarau Elétrico, dessa vez tendo como tema o bairro Bonfim - exatamente onde se localiza o Bar Ocidente. Luis Augusto Fischer, Kátia Suman, Cláudia Tajes e Cláudio Moreno leram textos de vários escritores e contaram algumas divertidas histórias sobre o local.
Hermes abriu sua canja justamente com "Nuvem Passageira", iniciando pela estrofe final ("por isso agora o que eu quero é dançar na chuva", etc), e retomando a música do começo. Como anunciado, ele cantou acompanhado do violonista Léo Henkin, dos Papas da Língua. A seguir os dois apresentaram "Desencontro de Primavera". Para o terceiro número, o sucesso local "Machu Picchu", Hermes chamou Cid, "o Magnífico", para reforçar na percussão (é ele quem aparece na foto bem de cima, à esquerda). Mais adiante, foi convidado também o cartunista Cláudio Spritzer, do jornal As Hienas, que está bem à direita na foto acima.
O repertório incluiu ainda "Chuva de Verão", "Easy Rider" (composição do próprio Hermes), "Eu Quero Ser Teu Rei" e até "Namoradinha de Um Amigo Meu", de Roberto Carlos. "And I Love Her", dos Beatles, não foi surpresa, pois o músico sempre canta alguma composição do quarteto de Liverpool em seus shows, mesmo nas curtas participações em mostras coletivas (como nos tempos de "Mr. Lee", nos anos 70). Léo e Hermes apresentaram ainda a ótima cantora Vaness (sem "a" no fim, à direita na foto acima), que além de ter uma belíssima voz, ainda demonstra uma invejável pronúncia de inglês. A música que ela interpretou, "Why?", composta por Hermes, foi nesse idioma.
Por fim, mais um Papa da Língua subiu ao palco: o vocalista Serginho Moah, para o bis de "Nuvem Passageira". Outro Papa, o baterista Fernando Pezão, também estava no Ocidente, mas ficou apenas observando. "Vim pra te assistir", justificou depois a Hermes. Foi um show relativamente curto, por ser apenas uma canja, mas valeu. Hermes Aquino está de volta. Que venham mais apresentações e, quem sabe, CD e DVD.

P.S.: Abaixo está um vídeo com 15 minutos do show, incluindo o começo e a participação de Vaness.


Já este outro vídeo não foi gravado por mim, mas ficou muito legal, com os ônibus e o movimento da Osvaldo Aranha ao fundo dando um toque bem "portoalegrense":






Hermes na Rolling Stone

Hermes está voltando em boa hora: como este Blog já divulgou diversas vezes, os dois únicos LPs que ele lançou em toda a sua carreira estão saindo em CD pela gravadora Discobertas. Pois a Rolling Stone de novembro (nº 62), com Jô Soares na capa, traz uma nota sobre esses relançamentos, assinada por Paulo Cavalcanti. É claro que a citação do meu nome ao final não me deixou nem um pouco aborrecido!

terça-feira, dezembro 13, 2011

Mandrialis canta autores gaúchos

Conheci o grupo vocal Mandrialis em 1997, cantando repertório da Jovem Guarda. Cheguei a escrever uma matéria a respeito para o International Magazine. Depois disso, o Mandrialis montou outra apresentação com tangos, boleros e músicas latinas em geral. Passados mais de dez anos, a formação mudou, mas o capricho nos arranjos continua o mesmo. Estas fotos são de 10 de dezembro, sábado, no Teatro de Câmara. O show Paisagens inclui somente compositores gaúchos.

Estava anunciada a participação de Nei Lisboa, mas, ao menos no sábado, ele não apareceu. Com isso, ficaram de fora "Pra Te Lembrar" e "Romance", que constavam no programa. Uma pena, pois eu adoraria conhecer o arranjo do grupo para essas duas músicas. Mas houve vários destaques, como "Pra Onde Ir" (do repertório do cantor Victor Hugo), "Lugarejo" (Giba Giba e Wanderley Falkenberg), "Navega Coração" (Kleiton e Kledir, aqui com solo do mesmo integrante que havia cantado "Sentado à Beira do Caminho" em 1997), "Nunca Diga" (da Graforreia Xilarmônica) e "Nuvem Passageira" (Hermes Aquino), entre outras.



Se não teve Nei Lisboa, em compensação Nélson Coelho de Castro participou, como anunciado. Ele, que agora se assume como um sambista, entrou no palco para uma animada interpretação da sua "Noite Vazou Encantada". A música foi ouvida novamente no bis, mais uma vez com o autor cantando junto, ensinando a letra para que a plateia fizesse o seu coro - "Mandrialis 2", como ele definiu, brincando. Longa vida ao ótimo Mandrialis. E o que estão esperando para lançar CD e DVD? Como prêmio de consolação, deveremos ter um especial da TVE, pois a equipe da emissora estava no teatro, gravando.




Aqui o bis com Nélson Coelho de Castro.

sábado, dezembro 10, 2011

Jon Anderson em Porto Alegre

Dificilmente uma gravadora se interessaria em lançar um CD ou DVD do show acústico de Jon Anderson. Porque é uma apresentação bem intimista, só para fãs. Mas, para estes, é o que basta. É como receber o velho ídolo em casa para uma performance exclusiva. E o público de ontem à noite no Teatro do Bourbon Country, em Porto Alegre, respondeu com entusiasmo à simpatia do ex-vocalista do Yes. Mesmo em músicas que pedem uma banda completa, como "Owner of a Lonely Heart" e "Roundabout", a ausência de instrumentos adicionais foi suprida pelas palmas e pela memória de quem já conhecia os arranjos. Não faltaram também "Yours is No Disgrace", "Long Distance Runaround", "I've Seen All Good People", "Starship Trooper", "Wonderous Stories", "Soon" e, do trabalho com Vangelis, "I'll Find My Way Home" e "State of Independence". Ouviram-se ainda algumas composições da carreira solo.

Sem se preocupar com a barreira do idioma, Jon conversou bastante, contando longas histórias que nem todos puderam entender, mas ouviram com respeito. Falou, por exemplo, da doença que o deixou sem poder cantar por seis meses. Como se sabe, foi aí que ele teve que se afastar do Yes. Veio a ser substituído por Benoit David, que permanece na banda. Mas não perdeu a cumplicidade dos fãs. Ao final, no bis, vários saíram das cadeiras e se aproximaram do palco. Um deles foi o ator Marcos Breda, notório fã de rock progressivo, que estendeu seus braços em reverência. Foi uma noite gratificante para o artista e para o público.

quinta-feira, dezembro 08, 2011

Vai ter show de HERMES AQUINO!

Esta notícia me deixou muito feliz. Já tem Hermes Aquino de novo nas lojas de CDs, pois agora vai ter no palco também. E já não era sem tempo. Tomara que seja a primeira de muitas outras apresentações. E a participação do Papa da Língua Léo Henkin valoriza ainda mais essa ocasião. Todos lá!

domingo, dezembro 04, 2011

O pico da madrugada

Este gráfico mostra as visitas de hoje, domingo, até o momento em que eu o copiei, obviamente. E já começa com um pico. Todos de visitas a este tópico aqui, que já foi acessado 49 vezes até agora. Não foi difícil achar a explicação: Ney Matogrosso concedeu uma entrevista no Altas Horas e tocou nesse assunto. Não é a primeira vez que isso acontece.

O triste fim de Sócrates

O álcool é uma droga duplamente sedutora. Em primeiro lugar, porque as bebidas alcoólicas, em geral, são saborosas. É muito fácil criar gosto pela combinação de doce, azedo e gelado de uma caipirinha, pelo amargo refrescante de uma cerveja, pelo buquê sutil e carregado de nuances de um vinho tinto ou pelo teor forte e acentuado dos destilados em geral.

Em segundo lugar, é inegável o prazer de um "pilequinho". A ressaca cobra a conta depois, mas o torpor etílico, enquanto dura, provoca uma sensação de relaxamento e euforia. E a combinação dos dois atrativos citados vem a criar um terceiro: o visual. A imagem de um copo de caipirinha cheio de gelo picado, de um copo de chope com colarinho ou de uma elegante taça de vinho faz brilhar os olhos de quem já se deixou seduzir por sua bebida preferida.

Ao contrário das drogas ilegais, o consumo de álcool, num primeiro momento, é estimulado. Somente quando se percebe (e nem sempre se percebe) que alguém está mergulhando perigosamente no poço do vício é que se começa a criticar e recomendar que pare. Muitas vezes essa tentativa de socorro nem sempre tempestiva parte das mesmas pessoas que antes encorajavam o alcoólatra a beber.

Até os 18 anos o álcool praticamente não existia para mim. Eu podia ocasionalmente bebericar uma caipirinha ou tomar um copo de vinho, mas não ficava de pileque. De cerveja, não gostava. E ainda assim lembro que, nas festas em família, às vezes alguém me dizia: "Deixa de frescura, hoje tu vais beber." Talvez imaginasse que minha quase abstinência fosse exigência dos meus pais, o que não era o caso naquele momento. Mas eu não bebia.

É difícil combater o uso do álcool porque o discurso pode acabar se alinhando com o de fanáticos religiosos, daqueles que acham que qualquer comportamento mais rebelde ou irreverente "é pecado". Além disso, significa também "cortar o barato" de pessoas que são felizes com sua cervejinha e muitas delas, admitamos, têm noção de limite. Sabem beber e percebem quando é hora de parar. Mas algumas não sabem e, ainda assim, não reconhecem. São alcoólatras em negação.

Um estereótipo que se faz dos alcoólatras é o de que são pessoas frustradas, fracassadas, traumatizadas, que bebem para afogar as mágoas. Ou então, indivíduos simples, de famílias pobres, que vivem num ambiente de "cachaceiros". Então vem a inevitável pergunta: que razões teria o jogador Sócrates para despencar nesse abismo? Ele foi um dos melhores jogadores de todos os tempos, era um sujeito inteligente, culto, que conseguiu a incrível façanha de frequentar a Faculdade de Medicina e se formar sem que isso prejudicasse sua carreira de atleta profissional. Já tinha um futuro mais do que garantido mesmo antes de pendurar as chuteiras e veio a apresentar um programa de entrevistas. E acabou assim, como o simplório Garrincha.

A verdade é que o estereótipo acima é uma fantasia. O álcool pode levar qualquer um, do mais anônimo indigente ao mais bem sucedido magnata.

Não faltarão patrulheiros do politicamente correto para dizer que se está "usando" a morte de Sócrates para combater o álcool. Mas, queiramos ou não, os exemplos públicos são os mais eficazes. São os que tocam mais profundamente a consciência da coletividade. Isso não diminui em nada a grandeza da trajetória do craque, como não ofuscou os dribles geniais das pernas tortas de Garrincha. Mas que é um fim triste, diferente do que se desejaria para ele, isso não se pode negar. E a lição fica, independente do que eu ou você possamos dizer, escrever ou pensar a respeito.

Leia também:

O abstêmio
Alice Cooper por ele mesmo

sábado, dezembro 03, 2011

Jornais que lembram a infância

Não sei se é a evolução da Medicina ou a velha lógica de que "no dos outros é refresco". Só sei que, depois que virei adulto e dono de minhas decisões, nunca mais precisei tomar uma injeção. Curioso, não? Quando a minha mãe é que resolvia, eu não escapava. Eu tinha nove anos no dia 13 de fevereiro de 1970 e estava na casa da praia, em Atlântida, quando tive um febrão. Minha mãe sentenciou que seria melhor erradicar de vez minha doença na agulha de uma seringa. Como é fácil decidir sobre a dor alheia! Mas por que eu lembro a data? Por causa deste jornal:

Como eu poderia esquecer? Esse tigre parecia debochar do meu martírio! O jornal estava em cima de minha cama. Enquanto eu fitava o desenho fixamente como uma espécie de fuga, a agulha consumava sua humilhante (e dolorida!) penetração. Alguns dias depois - ou teria sido no ano seguinte? - encontrei essa capa de jornal novamente na garagem e aquele torturante momento me voltou à lembrança. O tigre, no caso, é Shere Khan. Isso foi bem na época do lançamento do filme Mogli em Porto Alegre.

É por isso que eu adoro folhear jornais antigos no Museu de Comunicação. É uma legítima viagem no tempo, para mim. Em minha infância eu não era exatamente "leitor" de jornais, mas na Zero Hora eu sempre achava algo que captava o meu interesse. Desde o ano anterior, ou talvez antes, que o jornal era comprado todos os dias em nossa casa (além de recebermos regularmente o Correio do Povo, que era um dos poucos que ofereciam assinaturas e praticamente todas as famílias gaúchas tinham). Mas, no dia 12 de julho de 1969, um sábado, fiquei sabendo ainda pela manhã que "não tinha mais Zero Hora" nas bancas. Naquela época eu me interessava pelos pôsteres coloridos que o jornal publicava. Quando soube pela televisão quem estava no pôster do dia, quase surtei:


Por isso o jornal tinha esgotado tão depressa! O ratinho Topo Gigio era a febre do momento entre as crianças. E eu, como todos da minha idade, era fã. Depois meu irmão, que trabalhava na TV Gaúcha, me conseguiu alguns pôsteres que não haviam passado no controle de qualidade. A cor estava levemente manchada, mas eu só fui perceber isso alguns dias mais tarde, quando a Zero Hora reprisou o brinde, em razão do sucesso.

Minhas visitas ao Museu de Comunicação geralmente têm um objetivo, mas acabo aproveitando para descobrir outras coisas. No dia em que as pesquisas forem totalmente digitalizadas, essa informalidade de folhear o próprio jornal, com toda a calma e deleite, provavelmente se acabe. Assim como a surpresa de achar coisas de cuja existência nem se sabia. Aproveitei uma de minhas buscas para localizar o título de um filme a que eu lembrava de ter assistido em março de 1970. Fui com um colega de aula e nunca esqueci que, enquanto esperávamos a sessão começar, eu dei a ele uma notícia quentinha e ele não acreditou: João Saldanha não era mais o técnico da Seleção. Mais sobre isso adiante. No caso, o título do filme que eu procurava era este:

Graça a essa informação, consegui encomendar o DVD respectivo da Amazon, já que ainda não saiu no Brasil:
Mesmo assim, um detalhe não "fechou". Pelo que vi nos jornais, esse filme saiu de cartaz alguns dias antes da queda de Saldanha, que está registrada abaixo:

Então, puxando pela memória, percebi que o filme antes do qual eu havia dado a notícia para o meu colega era na verdade "Não Aperta Aparício", de José Mendes. Mas tudo bem, foi também em março de 1970. Assistimos aos dois filmes naquele mês.

Eu também batia os olhos na página de quadrinhos, embora não tivesse paciência para realmente acompanhar as histórias. Muitas vezes me perguntei se eu seria capaz de achar novamente uma tirinha do Batman que ficou gravada em minha memória. Pois consegui. É esta:


Foi publicada no dia 6 de maio de 1970. Fazia pouco tempo que eu tinha aprendido que "Física" não se referia somente a "Educação" Física, mesmo assim o conceito ainda era nebuloso para mim. Mas esse diálogo entre Batman e Robin eu nunca esqueci. Observem que o Batcomputador era melhor do que o Google: ele descobria qualquer informação sobre os suspeitos que a Dupla Dinâmica investigava. Bem que eu gostaria de encontrar essa história completa para ler hoje. As editoras americanas até republicam tirinhas de jornais (as chamadas "comic strips" ou "daily strips") em formato de livro, mas normalmente só as primeiras, pelo interesse histórico. Tentei achar alguma informação sobre essa historinha na Internet e só o que encontrei foi uma citação no New Straits Time, da Malásia, em uma matéria de 26 de fevereiro de 1989:

Agora percebo que escrevi sobre pesquisas de jornais e quem citei? Shere Kahn, Topo Gigio, Capitão Nemo, Batman e Robin. Mas tudo bem: são jornais que lembram a infância, como bem indica o título deste tópico. Parabéns à Zero Hora por sempre ter dado atenção aos pequenos leitores. Assim a gente vai se interessando por jornais desde criança.

P.S.: Uma pessoa observou que eu tinha escrito "Não Aparta, Aparício". Já fiz a correção. Mas até que seria um bom título para um filme, não? Ou um bom tema para uma música. "Não aparta, Aparício, deixa os dois agarradinhos, que eles estão gostando!"

sexta-feira, dezembro 02, 2011

O preço do carro importado

É incrível como os valores das outras pessoas podem ser diferentes dos nossos. Nesta semana recebi um e-mail conclamando todos os brasileiros a não comprar carro novo em 2012. O motivo do protesto é o valor extorsivo dos carros importados em relação ao que custam em outros países. Realmente, o preço do carro importado é um problema gravíssimo para todos nós do Brasil. Tanto que resolvi aderir ao boicote: não vou comprar nenhum carro importado em 2012! Será que eu vou resistir?

Chico Buarque em Porto Alegre

Ontem à noite dei baixa em mais um item da minha lista de "coisas que ainda quero fazer antes de morrer". Porque, por incrível que pareça, eu nunca tinha assistido a um show de Chico Buarque. Pra ser sincero, virei fã dele depois de adulto. Na minha adolescência eu não captava a MPB. E se é verdade que, contrariando meu princípio de que o público deve acompanhar a evolução de seu ídolo, eu preferiria ter assistido a um show "de sucessos", devo admitir que o repertório novo me encantou. A maestria com que Chico brinca com as palavras, fazendo com que rima e métrica pareçam inevitáveis (e não um compromisso), é inebriante. Músicas de fossa, saudade, amor, tudo flui com naturalidade de sua voz levemente nasal e marcante. O músico consegue irradiar simpatia sem falar quase nada com a plateia. E não faltaram alguns clássicos como "O Seu Amor", "Terezinha", "Geni e o Zeppelin". Nessa última eu pensei que o público fosse cantar junto no refrão, mas todos apenas ouviam, saboreando a interpretação.
Eu sei que já falei sobre isto aqui no Blog, mas vou repetir: com a abertura política, os anti-Chico apostaram que ele iria se apagar, pois "só sabe cantar música de protesto". Pois aí está ele, lotando o Teatro do SESI por quatro noites seguidas, mostrando que talento e boa poesia são atemporais. Valeu, mestre!


Dueto com o baterista Wilson das Neves em "Sou Eu" e "Teresa da Praia".


Na saída, aproveitei para tirar foto com duas lendas da música do Rio Grande do Sul: Raul Ellwanger (à esquerda) e Jerônimo Jardim (à direita). Esse cartaz do show serviu de pano de fundo para muitas fotos de fãs. Foi um prêmio de consolação, já que o que todos queriam mas não conseguiram (com raras exceções, como o próprio Raul) era se encontrar com Chico em carne e osso.