terça-feira, maio 31, 2005

Os 40 anos de um clássico


Ontem fez 40 anos que o filme "A Noviça Rebelde" estreou nos Estados Unidos. Pensando bem, que nome estranho foram escolher para esse filme no Brasil. O original se chama "The Sound of Music". Em Portugal o título ficou "Música no Coração". E, no entanto, "A Noviça Rebelde" já tem uma sonoridade familiar para nós.

Esse filme, a exemplo de "Love Story", marcou a minha infância sem que eu o tivesse visto... por causa da trilha sonora. Aos cinco anos, no saudoso Jardim de Infância da Comunidade Evangélica, na Senhor dos Passos (as dependências ainda existem, no prédio ao lado da Igreja), eu aprendi a cantar a versão em português de "Dó-Ré-Mi". Minha irmã tinha o compacto com a gravação original de Julie Andrews. Minha mãe me explicou o significado das palavras "noviça" e "rebelde". Então o filme me marcou de forma indireta.

Acho que eu tinha 17 anos quando o vi pela primeira vez, em cópia nova, no Cine Astor. Adorei. Claro que é um filminho água-com-açúcar, bastante longo, que pode ser muito chato para quem não gosta de musicais. Mas eu o vi duas vezes no cinema e depois comprei uma luxuosíssima edição comemorativa de 30 anos em videodisco, incluindo material suplementar que depois não foi recolocado na íntegra no DVD:

Agora dizem que vai sair outra edição com mais extras. O DVD brasileiro ainda em catálogo pode ser encontrado a preços bem acessíveis. Mas não me arrependo de ter comprado o videodisco de colecionador. O que ele tem que o DVD não tem:


1) Documentário em forma de texto e fotos, para ser visto quadro a quadro. Nos videodiscos era muito fácil incluir galeria de fotos, pois a imagem não era digital. O espaço equivalente a um segundo de filme podia conter 30 fotos diferentes. Num DVD, a quantidade de fotos que se podem incluir é bem mais limitada. Até hoje não vi nenhuma galeria de fotos de videodisco ser reincluída na edição em DVD (as outras duas que conheço são do filme "Help", dos Beatles, e "O Homem Que Caiu na Terra", estrelando David Bowie).

2) Livreto com o roteiro original da peça de teatro.

3) CD banhado a ouro contendo a trilha sonora completa, incluindo várias faixas que não apareciam no LP original ou relançamento em CD avulso.

Eu sei que vou acabar comprando a nova edição em DVD, quando sair. Adoro esse filme. Julie Andrews era linda e assim continuaria por muito tempo. Quem quiser conferir pode assistir ao filme "Sede de Amar" (Duet for One), de 1986, onde ela aparece um pouco melhor em uma das cenas:

Mas a "Noviça Rebelde" será sempre um clássico.

segunda-feira, maio 30, 2005

A minha maratona

Ontem teve a Maratona de Porto Alegre. Vocês não vão acreditar, mas eu já corri essa Maratona. Foi em 1984. Eu tinha 23 anos e 63 quilos.

Minha fase de atleta foi um período atípico da minha vida. Eu nunca me dei bem com esportes. Tinha dificuldade nas aulas de Educação Física, por meus problemas de peso e minha falta de agilidade. Não jogava futebol. Quando entrei para a faculdade, escolhi a modalidade "Ginástica Geral" por não me identificar com futebol, vôlei, basquete ou quaisquer das outras opções. E tive a sorte de pegar um bom professor. Quando ele viu o meu esforço para erguer os halteres, veio me falar: "Faz o esforço pra completar a série, mas se não conseguir, também não vai te matar!" Lembrei de outros professores que tive no colégio que chegavam a rir da minha dificuldade e percebi a diferença. Eu haveria de retribuir a compreensão dele fazendo o melhor que podia. Ali, foi plantada uma semente.

Concluídos os dois semestres de Educação Física da PUC, fiquei sem exercício por um tempo. Achei que deveria fazer alguma coisa. Resolvi dar três voltas na pista de 400 metros do Parque Marinha do Brasil. Me senti mal depois. Mas não desisti. Fui tentando aos poucos. Com calma, fui recuperando a forma e consegui chegar à marca de cinco voltas. Ao mesmo tempo, minha barriga começou a baixar. Aos 21 anos, cheguei a meu peso ideal. Fui aumentando minhas séries para duas de cinco voltas, duas de dez e finalmente uma de 20. Já não me cansava. Mas ainda era corredor de fim-de-semana. Um dia, levantei mais cedo para correr antes de trabalhar. Tornou-se um hábito. No auge da minha forma física eu corria de terça a domingo. Nove quilômetros nos dias de semana, 12 no sábado e 14 no domingo. E meus tempos estava melhorando, também. Meus batimentos cardíacos em repouso eram menos de 60 por minuto.

E adorava participar de provas de rua. A primeira foi o "Corre Corre" em 1982. Mas a mais marcante foi a Meia Maratona da Independência em 7 de setembro de 1983. Ainda lembro da emoção da chegada, pois eu não sabia se iria conseguir concluir os 21 quilômetros. Passei entre as arquibancadas ouvindo aplausos, ao cair da tarde. Foi então que comecei a decidir fazer uma loucura: encarar os 42 quilômetros da maratona completa. Pensei comigo mesmo que bastaria ir bem devagar e me preocupar apenas em chegar, nada mais. Não fiz nenhum treino específico a não ser me obrigar a correr todos os dias nas duas semanas anteriores, com chuva ou sol.

Foi em abril de 1984. Quando foi dada a largada, estranhei a diferença das provas menores. Em vez da turma saindo correndo à toda, os corredores partiram bem tranqüilos, ainda lembro de um dizendo pro outro, "boa corrida pra ti, Fulano", tudo num clima amistoso. Um garoto de 15 anos chamado João Gabriel acabou me acompanhando por quase todo o trajeto. Ele parou no quilômetro 30, que é considerado o limite onde muitos desistem. Eu comecei a caminhar no quilômetro 35. E dali fui alternando trechos de corrida e caminhada até cruzar a linha de chegada. Fiz a prova em quatro horas e cinco minutos. Durante o percurso, senti falta de água. A gente sente muita sede. Os copos de água mineral que são distribuídos pelo caminho não são suficientes. É comum os corredores combinarem com alguém para ir levar-lhes água em determinado ponto do trajeto.

Depois do fim da prova, passei em um bar do Parcão e tomei dois copos de água mineral com gás. À tarde, tentei tirar uma sesta, mas o corpo estava muito "aceso". A Zero Hora publicou o nome de todos os que chegaram. Por muito tempo eu tive esse jornal guardado, hoje não sei onde foi parar. E na manhã de sábado em que iriam distribuir diplomas aos que chegaram eu tinha uma prova na Faculdade e não pude ir.

Eu não estava preparado para uma corrida tão longa, mas fico feliz de tê-la enfrentado pois, se não tivesse feito naquele ano, não faria nunca mais. Tive muitas lesões em conseqüência da maratona, mas consegui me recuperar para mais algumas corridinhas. Em 1984, tirei oitavo lugar nos 5 mil metros nos Jogos da Caixa em Curitiba. Em 1985, tirei segundo lugar numa prova da Caixa de 10 mil metros restrita a empregados e dependentes do Rio Grande do Sul. Cheguei 500 metros à frente do terceiro colocado, ou seja: depois que eu cruzei a linha final, ele veio atrás e teve que dar mais uma volta. Bons tempos.

Mas meu peso foi voltando aos poucos, mesmo com o exercício. Minha tendência a ingerir calorias superava a de queimá-las. Tentei continuar correndo apesar do excesso de peso até que um dia, em 1996, aos 35 anos, me senti mal e resolvi parar. Ainda fiquei um tempo sonhando em recuperar a minha velha forma, mas hoje desisti. Foi bom enquanto durou. Eu não nasci para ser atleta. Um dia reencontrei o colega que ficou em terceiro atrás de mim na prova de 10 mil metros. Ele continua com o mesmo físico. Eu disse pra ele: "Não te dou revanche!" Minha prioridade agora é tratar a minha asma para poder pelo menos voltar a caminhar e viver normalmente, sem stress. Quero baixar de peso, mas não para voltar a correr. Até porque não conseguiria voltar a ser aquele jovem de 23 anos.

P.S: Ah, vocês querem saber quantos correram nos 5 mil metros dos Jogos da Caixa? Oito. Eu tirei o último lugar.

sábado, maio 28, 2005

Anúncio

Asmático procura médica pneumologista para compromisso sério. Situação financeira estável, nem rico, nem pobre, mas com muita riqueza interior, culto, inteligente, romântico, fiel, sensível (inclusive à poeira e outros agentes causadores de dispnéia), apreciador de música, cinema, restaurantes e boa leitura. Tenho um filho de 11 anos, lindo, mas com algumas peculiaridades que exigem paciência, que fica comigo em fins-de-semana alternados. Candidatas favor deixar mensagem neste blog. Imprescindível ser médica pneumologista. Uma de cada vez, por favor, e lembrem-se de que eu sou um só!
(Decidi resolver meus problemas todos de uma só tacada!)

sexta-feira, maio 27, 2005

Rosana mostra o OVNI na Internet

A jornalista Rosana Hermann avistou um OVNI e colocou fotos no seu blog. Cheguem lá para ver, é bem interessante.

quinta-feira, maio 26, 2005

Led Zeppelin, etc.

Existem dois DVDs de música que são obrigatórios para qualquer fã de rock: o duplo do Led Zeppelin, chamado apenas "Led Zeppelin", e o "Rush in Rio". Você não precisa nem assistir aos DVDs, mas tem que ter, entende? Se alguém olhar o seu acervo de DVDs, tem que enxergá-los lá.

Eu comprei os dois, é claro. E já que eles estão aqui, dou uma olhada neles de vez em quando. Agora deixei rolando o Led Zeppelin, enquanto faço uma tradução. E isso me fez lembrar que, nos anos 70, eu não gostava de Led Zeppelin. O Led era uma espécie de divisor de rios: você até podia curtir alguma coisa de rock, mas só quem gostava de Led Zeppelin era um roqueiro autêntico. Gostar de "Stairway to Heaven" não era gostar de Led Zeppelin. Tinha que gostar de tudo. Quanto mais barulhento e gritado, melhor. E eu não gostava. Não era roqueiro autêntico.

O Led Zeppelin realmente polarizava. Lembro de um colega que era fanático. Já quem não gostava, odiava. Não era exatamente o meu caso, mas ouvi relatos de gente que teve ganas de quebrar os LPs de seus amigos, de tanto que detestava. Gostar de Pink Floyd era fácil, qualquer um dizia que gostava. Mas Led Zeppelin era realmente um caso de amor e ódio. Eu preferia ignorar. Não tomava parte na briga, mas também não me interessava em conhecer.

Mas o tempo aumentou ainda mais o meu ecletismo. Se hoje eu consigo gostar de Moacyr Franco e Cauby Peixoto, Led Zeppelin entra fácil pelo extremo oposto do espectro. Na verdade eu achava os rocks deles muito disformes, sem estrutura. O vocal do Robert Plant me soava muito esganiçado. Fui ver o filme "Rock é Rock Mesmo" (no dia 10 de fevereiro de 1978 às 21 horas no saudoso Cine Mar, da praia de Atlântida, que depois virou um supermercado) e não mudei de opinião. Mas hoje consigo curtir o peso da guitarra do Jimmy Page e até admirar o alcance de voz do Plant. Eu não conhecia todas as músicas por nome, mas depois olhei com calma os títulos de algumas que me chamaram a atenção. Tenho uma coletânea deles em CD duplo. Hoje penso que deveria ter investido na caixa de quatro CDs, pois já estou começando a virar fã. Essas músicas de Kebworth em 1979 são ótimas, "Nobody's Fault But Mine", "Sick Again", "Achilles Last Stand" e "In The Evening", além das manjadas "Rock and Roll", "Kashmir" e "Whole Lotta Love".

Pensando bem, que invenção fantástica é o DVD. Nos anos 70 eu nunca poderia imaginar que iria existir um "tocador de vídeo" para eu olhar na TV qualquer show ou filme no momento em que quisesse. E com som estéreo perfeito. Olha lá o Robert Plant aparecendo na telinha com imagem perfeita. Eu tenho que parar de olhar para a TV. Eu tenho que parar de escrever isso. Eu tenho que continuar o meu trabalho. E até o Led Zeppelin já está me dando sono. Ora, isso não me surpreende. Já dormi ouvindo heavy metal (não muito alto, claro) e foi muito bom. Basta ser alguma música conhecida que me agrade, não precisa ser algo suave. A sensação aconchegante de familiaridade já me dá vontade de dormir. Ainda mais sabendo que tem trabalho esperando. Vamos a ele.

Bom feriado.

quarta-feira, maio 25, 2005

Infame

Agora já sei por que Santos Dumont fez seus balões e aviões na França. De tanto ouvir os franceses dizerem "voilá" ele resolveu voar lá.

terça-feira, maio 24, 2005

Do nosso correspondente


Esta foto foi mandada por meu amigo Paulo Braz, que mora em Londres. A moça da direita é a esposa dele, Dani. À esquerda aparece a nossa amiga Lisete, de passagem pela Inglaterra. Mas quem é aquele do meio mesmo? Ah, sim, ROBIN GIBB, ex-vocalista de uma banda inglesa que fazia cover da Sunset Riders, aqui de Porto Alegre. Ele imitava bem o vibrato do cantor do grupo gaúcho, mas os falsetes eram feitos pelo irmão dele, Barry. Talvez um dia ele venha à capital gaúcha para conhecer os músicos que o inspiraram. (Clique na foto para ampliar.)

Manias do computador

Certa vez trabalhei com um colega que tinha uma forma de proceder um tanto incomum quando era chamado ao telefone. Geralmente ele estava compenetrado em frente ao computador e o telefone tocava. Outra pessoa atendia e constatava que a ligação era pra ele.

- Fulano, telefone!

Ele confirmava baixinho, ou com um simples aceno de cabeça, e continuava o que estava fazendo. Lá pelas tantas, se fosse eu que tivesse atendido, ficava inseguro e repetia:

- Fulano, ouviste eu te avisar do telefone?
- Já vou...

E continuava ao computador, sem a menor pressa. Com isso, uma vez atendi uma ligação para ele e a pessoa suplicou: "Mas não me deixa pendurado..." Como se eu fosse o culpado.

Pois bem: às vezes, em meus acessos à Internet, lembro-me desse meu colega. Porque eu digito um endereço no navegador e ele simplesmente "não vai". Se coloco o cursor na altura da moldura, aparece uma pequena ampulheta. Mas se o deixo no centro da tela, só aparece a seta. Isso não me parece ser um problema de rede, mas sim do próprio Internet Explorer. Às vezes ele parece que não envia mais comandos para o modem. Simplesmente pára. Aí, só fechando todas as janelas e abrindo de novo. Isso quando não aparece a mensagem de que o "Iexplore.exe" não está respondendo. Se abro o MSN ou baixo mensagens pelo Outlook, confirmo que a conexão está funcionando bem. O problema é do navegador, mesmo.

Outra situação é quando um site em especial resolve não entrar. Aí, é como alguém para quem você telefona ou vai visitar e ninguém atende. Não adianta gritar "ó de casa", bater na porta (que porta?), tocar a campainha (que campainha?), reclamar para o computador, argumentar que o site deveria estar no ar 24 horas e blá blá blá. O cúmulo da resignação é quando você resolve procurar outro site porque o que você queria, justamente aquele que iria lhe trazer a informação desejada não está respondendo. Isso está cada vez mais comum. Você queria entrar no Orkut, você queria pesquisar uma palavra no Answers.com, mas não conseguiu, então desiste e vai passear por outras bandas.

Fazer o quê? O tempo dos aparelhos em que se teclava "Play" e eles obedeciam cegamente já passou há muito tempo. Estamos vivendo a era do "sistema está fora", "problema de rede", "tente mais tarde", "seu software é incompatível", "só funciona com a nova versão" e por aí vai. Nós é que temos que nos adaptar às manias do computador e não o contrário. Lembro quando eu ainda usava o paleozóico Windows 3.11 e um colega me disse que com o 95 meus problemas acabariam. Pois hoje dizem que é com o XP. E amanhã vai ser com o quê? Afinal, meus problemas têm ou não têm solução? Existe ou não existe um sistema operacional infalível?

Aí lembro do meu colega a quem eu, por insegurança, avisava pelo menos duas vezes que havia telefone pra ele. Talvez bastasse avisar uma vez só. Talvez eu não precise teclar "Enter" três ou quatro vezes para chegar a um site desejado ou clicar quatro ou cinco vezes em "OK". Mas a demora da resposta me deixa inseguro e eu acabo fazendo isso. Ouvi dizer que estão pensando em colocar software em equipamentos de áudio e vídeo ou até já fazendo isso. Não! Tudo menos isso! Imagina eu estar curtindo um DVD e, na metade, aparecer a mensagem de que "seu programa realizou uma operação ilegal e será fechado". Ou então: "este DVD só roda com a versão 2010 do sistema operacional". Chega!

segunda-feira, maio 23, 2005

Pensamento da hora

Os homens se dividem em três tipos: os que querem um relacionamento sério, os que só querem sexo e os que querem um relacionamento conveniente, fazendo o que bem entenderem e tendo a mulher (ou as mulheres) à disposição. Cabe a vocês, mulheres, descobrir por qual dos três tipos se envolveram e decidir se vale a pena continuar ou não. Mas sem lamentações.

Resposta dada em um grupo de discussão a uma mulher que leu no meu blog que "as mulheres são complicadas" e questionou se os homens são fáceis de entender.

O verdadeiro Mario Quintana


Eu estaria mentindo se dissesse que conheci Mario Quintana "pessoalmente". Em 1976 eu tinha 15 anos e era o mais jovem sócio do Grêmio Literário Castro Alves (exceto por outro menino que era sócio honorário e ainda não escrevia). Aquele foi o ano em que Quintana completou 70 anos. Houve uma homenagem a ele na sede que o Grêmio ocupava no Edifício Ouvidor e eu estava presente. Lembro também quando, no mesmo ano, Rossyr Berny lançou seu primeiro livro, "O Homem Autômato", prefaciado por Quintana. A sessão de autógrafos foi numa Livraria Sulina da Rua da Praia. Quintana estava lá. Ao estender seu exemplar do livro para Rossyr autografar, ele disse, bem sério: "Mario Quintana". Vez ou outra eu o avistava caminhando pelo centro de Porto Alegre. Na Feira do Livro ele era figurinha carimbada.


A Editora Globo está relançando os livros de Mario Quintana em belas edições organizadas por Tania Franco Carvalhal. Segundo foi divulgado na imprensa, o objetivo é fazer com que as pessoas conheçam a obra do poeta e não apenas as histórias sobre suas tiradas bem-humoradas (muitas compiladas no livro "Ora Bolas", de Juarez Fonseca) e seus hábitos peculiares. Mas o verdadeiro motivo talvez seja outro. Embora não tanto quanto Luis Fernando Verissimo, Mario Quintana está tendo seu nome fartamente usado em textos de outros que circulam pela Internet. Alguns são de Martha Medeiros. Quem conhece o verdadeiro estilo de Quintana logo percebe que a autoria não pode ser dele. Mas, também a exemplo de Verissimo, existe uma geração nova que não conheceu os livros e está formando uma falsa imagem de Quintana a partir desses apócrifos.

Aproveitando o desconto de 20% que a Livraria do Globo de Porto Alegre sempre oferece no dia 20 de cada mês, na sexta-feira comprei "A Rua dos Cataventos"(1940), "Canções" (1946) e "Sapato Florido" (1948). Acho que só saíram esses, por enquanto. As capas são bem interessantes, mas não adianta tentar achá-las no site da Editora Globo. Ele está desatualizado. Até fico em dúvida se realmente é possível encontrar as edições anteriores do "Caderno H" e outras que aparecem como disponíveis para venda na página.

Sem o desconto, "A Rua dos Cataventos" e "Canções" custam 25 reais cada um. "Sapato Florido" sai por 29 reais. Cada livro traz um texto de abertura em que um escritor diferente analisa o conteúdo da obra. Ao final há a bibliografia do autor, outra de livros sobre ele e por fim a cronologia de sua vida.


Agora peço licença para mostrar pra vocês um pouco do verdadeiro Mario Quintana:

Rua dos Cataventos – soneto II

Dorme, ruazinha... É tudo escuro...
E os meus passos, quem é que pode ouvi-los?
Dorme o teu sono sossegado e puro
Com teus lampiões, com teus jardins tranqüilos...


Dorme... Não há ladrões, eu te asseguro...
Nem guardas para acaso persegui-los...
Na noite alta, como sobre um muro,
As estrelinhas cantam como grilos...


O vento está dormindo na calçada,
O vento enovelou-se como um cão...
Dorme, ruazinha... Não há nada...


Só meus passos... Mas tão leves são
Que até parecem, pela madrugada,
Os da minha futura assombração


(Esse tinha no meu livro de Português da 6ª série com o título de "Dorme, ruazinha".)

De "Canções":


Canção da aia para o filho do rei

Mandei pregar as estrelas
Para velarem teu sono
Teus suspiros são barquinhos
Que me levam para longe...
Me perdi no céu azul
E tu, dormindo, sorrias.
Despetalei uma estrela
Para ver se me querias...
Aonde irão os barquinhos?
Com que será que tu sonhas!
Os remos mal batem n’água...
Minhas mãos batem na sombra.
A quem será que sorris?
Dorme quieto, meu reizinho.
Há dragões na noite imensa.
Há emboscadas nos caminhos...
Despetalei as estrelas,
Apaguei as luzes todas.
Só o luar te banha o rosto
E tu sorris no teu sonho.
Ergues o braço nuzinho,
Quase me tocas... A medo
Eu começo a acariciar-te
Com a sombra dos meus dedos...
Dorme quieto, meu reizinho.
Os dragões, com a boca enorme,
Estão comendo os sapatos
Dos meninos que não dormem...


De "Sapato Florido":

Clopt! Clopt!

É a ruazinha que tosse, tosse, engasgada com o homem da muleta.

Prosódia

As folhas enchem de ff as vogais do vento.

Comentário ouvido num bonde

Que moça culta, a Maria Eduarda: usa ponto-e-vírgula!

As falsas recordações

Se a gente pudesse escolher a infância que teria vivido, com que enternecimento eu não recordaria agora aquele velho tio de perna de pau, que nunca existiu na família, e aquele arroio aos fundos do quintal, e onde íamos pescar e sestear nas tardes de verão, sob o zumbido inquietante dos besouros...

domingo, maio 22, 2005

Socorro!

Se eu tivesse 27 anos e minha mãe ligasse pro meu celular sábado à meia-noite me tirando do bar para buscar meu tio de 44 anos que está tendo um ataque de asma, eu não conseguiria esconder minha indignação. Nisso eu tenho que agradecer e tirar o chapéu (que eu não uso) para o meu sobrinho Ricardo. Não, não estou dizendo que ele não ficou indignado. Deve ter ficado. Mas disfarçou muito bem. E ainda brincou comigo para me tranqüilizar. Na verdade ele pensou que só teria que me levar para a casa da mãe dele, minha irmã. Mas eu pedi para ir ao hospital.

Eu já tinha tido uma crise de falta de ar à tarde. Estava com meu filho e tive que pedir à minha ex-mulher para devolvê-lo. Foi uma pena, o Iuri estava muito bem comportado e com tanta saudade de mim quanto eu dele. Mas não houve outra saída. Chamei um táxi que pareceu levar uma eternidade para chegar. Depois de deixar meu filho na casa dele, fui direto para a emergência do Mãe de Deus. Pela primeira vez entrei pela porta de emergência, mesmo, na cadeira de rodas (fiquei entalado), pois não conseguia dar um passo sem perder o fôlego (mais tarde meu sobrinho diria que eu estava com "um problema respiratório nas pernas"). Mas só de receber atendimento, já fiquei mais tranqüilo. Talvez por isso, o médico não levou muito a sério o meu quadro. Deu-me uma nebulização e me mandou para casa. Fui dormir às seis da tarde. À meia-noite, acordei com um pouco de chiado no peito. Levantei para ir ao banheiro e vi que era mais grave. Apesar do horário, resolvi ligar para minha irmã. E meu sobrinho acabou trocando o chopp com os amigos por um emocionante cochilo de três horas na sala de espera do hospital.

Se eu tinha alguma dúvida de que estou velho, perdi ontem à noite. Eu nunca soube para que servia aquele tubo plástico fininho que atravessa o rosto do paciente na horizontal, com duas entradas para as narinas. Não sei se foi porque a primeira pessoa que vi usando aquilo foi minha avó em estado grave, mas sempre associo aquele apetrecho a pacientes idosos em risco de vida. Eu não sabia nem o nome, mas se via em alguém, já pensava: esse tá mal! Pois ontem foi a minha vez de usar. Chama-se "óculos nasal". Não, não é para as narinas enxergarem melhor. É para oxigenar o sangue e o cérebro. Pelo menos foi o que a enfermeira me disse.

A médica da noite levou mais a sério a minha condição. Fiz três nebulizações, uma aplicação intravenosa de cortisona, um raio X e ainda tive uma sessão grátis de Serginho Groissman com direito a Gretchen (que estava aparecendo tão logo cheguei ao hospital, então achei melhor não olhar muito, para preservar o fôlego), Brazilian Genghis Khan e Jane e Herondy. Depois ela me deu um puxão de orelhas por não ter ido mais ao pneumologista e me receitou uma série de medicamentos. Ah, uma das recomendações foi a de que eu não ficasse sozinho em casa nesse período de recuperação. Resultado: estou na casa de minha irmã. Fazer o quê? Foi a médica que mandou!

Ela pensou que o Ricardo fosse meu filho. Só se eu tivesse feito alguma bobagem aos 16 anos. Pensando bem, até fiz, – muitas - mas não desse tipo. Não seria má idéia ter um filho como ele. Minha irmã e meus sobrinhos têm sido meus anjos da guarda. O Ricardo é sempre o escolhido para me "recolher" em casa. Já fez outras vezes. Agora estou em dívida com ele e vou acabar tendo que ir ao Beira-Rio, mesmo, atendendo à campanha dele. Só avisei que tem que ser nas cadeiras, pois não consigo sentar muito tempo sem encosto.

Velho, eu?

sábado, maio 21, 2005

Pensamento da hora

As letras de amor feliz a gente escreve em braille no corpo da pessoa amada.
(Essa frase eu coloquei num grupo de discussão para justificar por que a maioria das letras de amor são de fossa.)

sexta-feira, maio 20, 2005

Rapidinha

Como diria Hannibal, o canibal, "em Roma, como os romanos".

quinta-feira, maio 19, 2005

A minha rua

Quando fui procurar apartamento para alugar, em 1998, fazia questão que fosse no Menino Deus. Por ser o meu bairro preferido de Porto Alegre e também para ficar perto do meu filho, da minha irmã e de minha então namorada. Além disso, eu já estava viciado no Shopping Praia de Belas, então era normal procurar uma residência próxima do ponto (epa!). Acabei fazendo minha escolha, entre outras coisas, pelo preço do aluguel. Hoje já subiu bastante, mas na época era um valor bem em conta em relação aos demais. E acho que sei por quê. Apesar de ser muito bem localizado, o edifício fica numa rua que ninguém conhece: Augusto Melecchi.

Ora, a fama de uma rua não deveria influir na cotação dos imóveis. Mas, convenhamos, há um certo status em morar numa rua conhecida. Além, é claro, da comodidade de não ter que ficar explicando onde fica. Quem mora, por exemplo, na Ganzo, na Getúlio Vargas ou na José de Alencar, não tem dificuldade nenhuma quando pega um táxi ou pede uma pizza por telefone. Só precisa dizer nome e número e esperar descansado. Já eu, cada vez que entro num táxi, ainda recuperando o fôlego, tentando achar a tranca do cinto para fechar, tenho que recitar o script decorado: "É na rua Augusto Melecchi, uma paralela à Praia de Belas, o senhor vai pela Praia de Belas até a sinaleira da Botafogo, depois dá o retorno, que eu mostro onde é". Mesmo assim, a maioria dos motoristas entende que tem que entrar na Botafogo. Para evitar essa confusão, quando estamos chegando perto, mostro o começo da rua Hugo Ribeiro do outro lado do canteiro e digo: "É ali que tem que entrar." Aí ninguém erra.

A Augusto Melecchi é uma rua de uma quadra só. Não é caminho para nada. Só entra nela quem precisa realmente ficar por lá. Começa na Peri Machado e termina na Hugo Ribeiro – ou o contrário, dependendo da parada do ônibus em que você descer na Praia de Belas para chegar lá. Ora, uma rua assim deveria se chamar Pery Ribeiro, em homenagem ao cantor. Tem mão dupla, mas é estreita e estacionam carros dos dois lados. Assim, nunca há espaço para tráfego simultâneo nos dois sentidos. Às vezes um carro tem que parar na esquina ou junto à calçada para esperar o outro passar. Usando uma linguagem de teleprocessamento, seria uma rua half-duplex.

Quando me mudei, não tinha a mínima idéia de quem tinha sido Augusto Melecchi. Hoje já sei: é o avô do meu dentista.

O Charada


"Before you trip over your cane, Batman, riddle me this: there are three men in boat with four cigarettes, but no matches. How do they manage to smoke? HEHEHEHEHEHE..."

Morreu Frank Gorshin, o Charada da série de TV "Batman", de 1966/67. O Charada foi o vilão do primeiro episódio, embora em Porto Alegre o primeiro apresentado tenha sido o da Mulher Gato tentando matar Batman com um tigre. Nunca achei graça nas charadas que ele apresentava, mas claro, elas se perdiam completamente na tradução. Espero viver para ver o dia em que a Fox (que produziu a série) e a Warner (que detém os direitos do personagem) entrem num entendimento para o lançamento da série completa em DVD.

Robin: "There are three men in a boat with four cigarettes, but no matches. How do they manage to smoke. They threw one cigarette overboard and made the boat a cigarette lighter!"

Com. Gordon: "Correct, Boy Wonder!"

quarta-feira, maio 18, 2005

O verbo "care"

O brasileiro adora se vangloriar do fato de que a palavra "saudade" não tem tradução em outros idiomas. Posso confirmar que em inglês, como substantivo, realmente não tem. Mas o verbo "miss" contém a idéia de saudade. Sentir saudade em inglês é muito fácil, basta dizer: "I miss you". Ou: "I miss her", se a pessoa em questão (no caso do exemplo, do sexo feminino) estiver ausente. ("I miss you" seria ao telefone.) Claro que a palavra saudade é muito mais bonita e poética. E, para quem já sentiu ou sente, carrega um sentido todo especial. Podemos dizer em inglês "I miss you", "I miss her" ou "I miss him", mas não é o mesmo que suspirar: "Ah, que saudade..."

Por outro lado, existe uma palavra em inglês que faz muita falta em português: o verbo "care". É um termo supercomum e que oferece dificuldade aos tradutores. O Michaelis aponta a seguinte tradução:

to care about ou for: 1 cuidar de, inquietar-se por, preocupar-se com, afligir-se por. 2 interessar-se por, importar-se com. 3 gostar de, desejar, apreciar

Na verdade o verbo "care" engloba todos esses sentidos ao mesmo tempo. "To care for someone" é gostar de alguém a ponto de preocupar-se com essa pessoa, querer saber se está legal, desejar o melhor para ela e fazer o que estiver ao alcance para garantir o seu bem. Pode ser também amar, conforme o caso. No filme "Love Story", uma cena importantíssima perdeu muito de seu impacto na tradução. Oliver (Ryan O'Neal) e Jenny (Ali McGraw) estão caminhando na rua e conversando. Oliver está indignado porque Jenny parece tentar disfarçar seus sentimentos com seu senso de humor. E ele diz: "Um dia você vai admitir que você se importa". E na mesma hora ela o encara e diz: "Eu me importo". Os dois se beijam e, na cena seguinte, já estão na cama.

Não se pode culpar muito o tradutor, pois o verbo "care" é realmente complicado. Mas no diálogo em questão, o que aconteceu foi uma declaração de amor. Talvez fosse melhor ele ter dito "um dia você vai admitir que gosta de mim" e ela responder "eu gosto". Porque esse era o sentido pretendido. Claro que depende do contexto. Por exemplo, em "Superman II", Lois Lane (Margot Kidder) faz uma crítica a Clark Kent (Christopher Reeve) e diz: "Eu não falaria se não me importasse." Como ela disse "care", Clark começa a se entusiasmar, até que vem a ducha de água fria: "Não é para isso que são os amigos?" Aí ele repete, decepcionado: "Amigos..." Já no filme "Robocop 2" o tradutor errou, mesmo. Aparece um comercial fictício do coração artificial Yamaha e no final o ator apresenta o diferencial da empresa: "We care!" O que ele quis dizer foi "nós nos importamos com você, nós realmente nos preocupamos com seu bem-estar", algo assim. Na tradução saiu: "Nós damos assistência".

O verbo "care" representa o sentimento que deveríamos ter pelo ser humano, pela natureza, pelo mundo. Lembro de um comercial de TV, acho que era da Levi's, em que aparecia um rapaz gritando. "Vamo cuidá desse mundo!" No original ele deve ter dito: "Let's care for this world!" Vamos ter mais amor pelo mundo, zelar por ele, preservá-lo. Sim, o verbo "care" faz muita falta. Não estou afirmando que, por tê-lo em seu vocabulário, os nativos de língua inglesa sejam mais benevolentes ou caridosos. Mas é bom aprender a "care" por muitas coisas e pessoas que nos cercam. Até para não sentir saudade depois.

terça-feira, maio 17, 2005

Habemus Ad Escielium

Finalmente instalei conexão ADSL em casa. Tenho até vergonha de dizer que demorei tanto para ter Internet rápida. Linha discada é coisa do século passado. Joguei dinheiro fora com impulsos telefônicos por não ter providenciado isso antes. Acabou aquele sentimento de culpa cada vez que eu me conecto, enxergando os cifrões da conta telefônica subindo, subindo, subindo...

Mas tem também a vantagem da rapidez. Agora vou poder baixar arquivos grandes sem stress. Finalmente vou ouvir a gravação ao vivo do show de Sonekka e Zé Edu, que vocês também podem baixar
aqui. Posso sintonizar alguma rádio do exterior e deixar tocando enquanto faço minhas traduções. Ou usar o Kazaa ou algum outro programa de troca de arquivos com muito mais rapidez. Enfim, Século XXI, cheguei! Obrigado aos que me esperaram.

Aguardem para breve o meu primeiro acesso de fúria quando alguma coisa falhar.

Eu li!

"Assentado sobre o único acesso do local à carga e descarga de equipamentos, o pau deixou de ser arte para simplesmente estorvar."

O pau em questão é citado em matéria de capa do Segundo Caderno de Zero Hora de hoje. Trata-se de um tronco colocado em janeiro de 2003 na Travessa dos Cataventos da Casa de Cultura Mario Quintana como parte de uma mostra do artista plástico Hamilton Coelho. O restante da exposição foi recolhido ao final, mas o pau do Hamilton continua lá, pois é tão grande que ninguém consegue transportar.

Bom dia

Oi, gente, desculpem meu silêncio. Nesse fim-de-semana as coisas não aconteceram como planejado. Eu pretendia estrear em grande estilo a minha conexão ADSL já no sábado e escrever sobre isso no blog, para oficializar a inauguração. Mas, por algum motivo, o novo modem não funcionou. O técnico que foi instalar achou que pudesse ser porque estou usando Windows 98 versão anterior à "SE" (a velha história de ser obrigado a atualizar o sistema para continuar fazendo a mesma coisa), mas ele já testou na casa dele e parece que o problema é no aparelho, mesmo. Será trocado e faremos novo teste. Até acertar.

Também deixei para a última hora umas traduções que tinha pra fazer, imaginando acordar domingo bem cedo para começar a trabalhar, mas acabei tendo uma crise de asma durante a noite que não me deixou dormir direito. O resultado é que só comecei a trabalhar domingo à tarde e ainda fiz uma pausa para o supermercado, então repeti aquele esquema que eu sempre digo que vai ser a última vez: virei a madrugada trabalhando, permitindo-me apenas uma hora e meia de sono quando senti que "não dava mais". Em compensação, ontem à noite fui dormir às sete e meia e acordei hoje seis e meia da manhã. Onze horas de sono. Estou recuperado.

Segue o baile.


P.S.: Eu disse que estava recuperado? Acabei de dar um bocejo! Certa vez me perguntaram que animal eu gostaria de ser se não fosse humano. Respondi que queria ser um urso para hibernar no inverno.

sexta-feira, maio 13, 2005

Cachorros

Ontem, por ironia, saíram duas notícias antagônicas na mesma página da Zero Hora. Uma relatava que uma menina de um ano e três meses havia sido morta por um cachorro pitbull em Pelotas. A outra contava que um motorista tinha sido condenado por atropelar um labrador numa situação em que o acidente poderia ter sido evitado.

Emitir opiniões polêmicas é sempre perigoso, pois corre-se o risco de ser mal interpretado. Quero começar deixando bem claro que tenho o maior respeito pelos animais. Achei desumano o que fizeram com a cachorra Preta, por coincidência também em Pelotas, amarrando-a a um automóvel e arrastando-a pelas ruas. Os bichos são seres espontâneos, instintivos e, em geral, desprovidos de maldade. Os animais ferozes assim o são por natureza. Adoro visitar zoológicos e assistir a documentários sobre o reino animal.

No entanto, estou numa fase de achar que os cachorros estão ocupando espaços exageradamente privilegiados em nossos lares. Consigo entender a curtição que é ter um animal de estimação. Os cãezinhos são simpáticos, reconhecem o dono e têm uma forma toda especial de demonstrar afeto. Com isso, acabam acontecendo algumas inversões de valores. As pessoas carentes e/ou problemáticas se refugiam dando carinho ao animal, com aparente retribuição. E como o cachorro não pede mesada, não reclama da falta de liberdade e não se envolve em más companhias, torna-se uma companhia segura e isenta de preocupações. Só precisa ser vacinado, alimentado e levado para passear regularmente. E fica sozinho em casa, se for preciso.

Minha mãe teve um cachorro a quem amou como um filho. Não, não tenho trauma nenhum disso. Nunca me faltou carinho da Dona Irene. E eu também curtia o meu, digamos, "irmão adotivo". E como eu passava horas a fio trancado no meu quarto ouvindo música, o cocker spaniel Rocky era a companhia mais constante da minha mãe. Quando ouvíamos o barulho das patas dele caminhando, sabíamos que ela vinha junto. Ele era a sombra dela.

Infelizmente, o Rocky tinha um comportamento imprevisível com outras pessoas. Primeiro, fazia festa e conquistava a confiança. Depois, avançava e mordia. Com isso, foi hostilizado no prédio onde morávamos. O condomínio decidiu aplicar uma "operação padrão" e obrigar os moradores a se desfazer de seus animais de estimação. Na prática, o objetivo era livrar-se do nosso cachorro. Sabíamos disso. Foi um drama. Meu pai ainda tentou achar uma solução contemporizadora, mas o condomínio foi irredutível. O cachorro teve que ir. Ficou na vivenda da Palmira Gobbi e não viveu muito mais tempo depois.

As pessoas de fora comentavam: tanto sofrimento por um cachorro? Eis a questão. Os cães conquistam rapidamente um lugar de honra em nossas vidas. Para os donos, passa a ser algo normal. Mas os vizinhos e amigos estranham. Hoje, ressalvado o respeito de que falei no início, acho cachorro um bicho muito chato. Você chega na casa de um amigo e lá está o animal latindo a plenos pulmões, tirando o seu sossego. Fora os que começam a fazer isso no meio da noite e não param mais, atrapalhando seu sono. Quem gosta de correr, principalmente na praia, tem histórias pra contar de cachorros soltos que começaram a persegui-los. Sim, porque alguns donos se orgulham de "não precisar" levar seus cachorros na guia. E aí acontecem os incidentes. E já contei aqui a história da namorada que me pediu para sair do quarto para o cachorro parar de latir.

Certa vez ouvi a mãe de duas meninas dizer, entusiasmada, que tinha comprado um cãozinho de estimação. E falou com todas as letras: "Um cachorro dá mais alegria do que uma pessoa!" Não escondi minha indignação com a frase, mas resisti a meu impulso de perguntar por que ela não deixava as filhas num canil. Em outra ocasião, um cão de rua me seguiu até a garagem. Quando entrei no carro, ele começou a chorar. E eu também, pois me identifiquei demais com a solidão daquele bichinho. Ou talvez ele estivesse perdido, não sei. Só sei que, com um nó na garganta, eu disse pra ele: "desculpe, não posso te adotar".

Até que eu iria curtir bastante um cachorro em minha situação atual. Mas seria muita crueldade deixar o bicho sozinho o dia inteiro no meu apartamento. E depois eu teria que ter todos os cuidados, vacina, alimentação... É muita energia despendida num ser irracional. Um cachorro de rua se vira, um menino de rua se torna delinqüente e uma menina abandonada tende a se prostituir. Não pretendo adotar ninguém, mas também não vou colocar um animal no lugar que poderia ser de uma criança.

A verdade é que o afeto dos donos por seus cães está fugindo de controle. Os pittbulls matam, mutilam, estraçalham e os donos teimam em defendê-los e dizer que são mansinhos. Aí um motorista atropela um labrador e é condenado. Quem vai pagar pela morte da nenê em Pelotas? Repito que está havendo uma inversão de valores. Os animais merecem respeito e bons tratos, mas cada um no seu lugar. As pessoas ainda são mais importantes.

quinta-feira, maio 12, 2005

Silêncio!

Hoje de manhã, quando cheguei para o trabalho, havia uma faixa estendida sobre a Marechal Floriano, entre a General Vitorino e a Salgado Filho. Não anotei os dizeres, mas era mais ou menos o seguinte:

"GERENTES DA LOSANGO E DA FINASA, PEÇAM A SEUS VENDEDORES PARA NÃO GRITAR. VENDEDORES DA LOSANGO E DA FINASA, POR FAVOR, NÃO GRITEM!
ASSINADO: LOJISTAS DA MARECHAL".

Havia um funcionário da Losango olhando, preocupado. Ao meio-dia a faixa não estava mais lá. Que coisa, hein?

quarta-feira, maio 11, 2005

A propósito...

Alguém vai no show do Uakti, sexta-feira, no Salão de Atos da Puc? Eu estava achando o preço do ingresso relativamente barato a 25 reais, mas hoje vi no jornal que é só uma hora de show. Ou seja, meio show por meia entrada. Mesmo assim, acho que vou. Quem sabe não rola um bis bem espichado?

terça-feira, maio 10, 2005

Eu li!

"Concordo que o Ney [Matogrosso] era melhor com os Secos & Molhados, mas para falar a verdade, me decepcionei com ele quando assumiu no Fantástico que teve um caso com o Cazuza. Precisava falar isso, se ficou tanto tempo entre ele e o Cazuza? Alguém pensou na mãe do Cazuza ouvindo isso?"

Mensagem anônima colocada no Orkut por um desinformado de plantão. Pois é, coitadinha da mãe do Cazuza quando viu isso. Imagina a surpresa que ela não teve também quando viu o filme sobre o seu filho. Só que o caso entre Ney Matogrosso e Cazuza já era sabido há muito tempo e é citado pela mãe de Cazuza, Lucinha Araújo, em seu livro "Só As Mães São Felizes", escrito com Regina Echeverria e publicado originalmente em 1997. Ney apenas lembrou o fato por ocasião do lançamento do filme sobre a vida do cantor.


Tenho paciência com quem sabe pouco e quer aprender, mas sou impiedoso com quem não sabe nada e se enche de razão para dizer bobagens.

Crianças soltas

Uma das disciplinas mais interessantes que tive na Faculdade de Jornalismo foi Administração em Jornalismo. O professor Piero Falci, fugindo um pouco do foco da cadeira, baseou suas aulas em um livro sobre Psicologia da Administração. E ali tive confirmada a minha hipótese de que os filhos devem receber liberdade de forma lenta e progressiva, como acontece com um empregado novo na empresa. Num primeiro momento os pais devem impor sua autoridade e conquistar a obediência. Depois, aos poucos, explicar o porquê de suas ordens. Num terceiro momento, vender a idéia e deixar que seus rebentos, já grandinhos, façam suas escolhas. Por fim, tornam-se adultos e independentes.

Mas no caso de crianças pequenas existe um fator preponderante a ser considerado, que é a segurança. Às vezes vejo pimpolhos com não mais de sete anos com uma liberdade exagerada que os coloca em situação de risco. Certa vez eu caminhava em direção ao Zaffari do Menino Deus quando vi uma cena estarrecedora. Era final de tarde e já havia escurecido. Um garoto de menos de cinco anos pedalava seu triciclo a toda velocidade pela calçada da Ganzo, em direção à movimentadíssima Múcio Teixeira. Quando chegou perto do cordão da calçada (ou "meio-fio", pra quem não é gaúcho), colocou os dois pés no chão para frear, demonstrando que sabia até onde podia ir. Até aí, tudo bem. Mas, a olho nu, não avistei nenhum adulto que estivesse olhando por aquela criança. Mesmo que houvesse, deveria estar numa distância de onde não poderia fazer muita coisa no caso de um incidente.

Ontem mesmo, no Nacional do Shopping Praia de Belas, um pai deixou seu filho de cerca de cinco anos guardando lugar na fila enquanto foi buscar mais alguma compra que tinha esquecido. Voltou logo, mas demorou tempo suficiente para deixar o menino apreensivo, procurando-o com os olhos, a ponto de chegar a sair rapidamente da fila e depois voltar. E no mesmo supermercado vi crianças brincando de empurrar carrinho sem qualquer limite, atrapalhando outros clientes. Lembro de uma noite em que fui jantar com uma turma de amigos e o casal de filhos de uma colega perguntou se podia brincar na frente da churrascaria. Foram autorizados. Manifestei surpresa e ela comentou: "Eles estão acostumados..." Ah, sim. Só há perigo para quem não está acostumado.

É verdade que as crianças que vivenciam essa liberdade prematura adquirem mais depressa senso de independência e iniciativa. Mas, durante esse processo, correm um risco desnecessário. Se não acontecer nada, ótimo. Mas vale a pena? Muitos pais de crianças desaparecidas, ou mesmo os que já tiveram o susto de perder um filho num shopping ou supermercado, teriam uma resposta inequívoca para essa pergunta.

segunda-feira, maio 09, 2005

Sunset Riders - nova alteração

Hoje recebi novo e-mail da Assessoria de Imprensa da Sunset Riders dizendo o seguinte:

"Desculpe, mas tivemos que voltar atrás quanto ao ESPECIAL BEE GEES. Fica agora confirmado para dia 19/05/05, data que estava marcado anteriormente, pois dia 11/05/05, próxima quarta-feira, estaremos realizando show normal."

Fiquem a postos para a próxima alteração. (Não, agora chega, por favor!)

Futebol sem alegria

O goleiro Eduardo quer ir embora do Grêmio antes do fim do seu contrato. Abre mão de um salário mensal de 30 mil reais em troca de sua paz de espírito. Enquanto isso, a torcida do Corinthians parte para a agressão porque o seu time perdeu de goleada para o São Paulo. Tudo isso me faz pensar que, há muito tempo, acabou a alegria no futebol brasileiro. A vitória não é mais um objetivo, é uma obrigação. Se ela vem, até é comemorada, mas de uma forma quase doentia, como uma catarse. Por outro lado, se vem a derrota, os jogadores são execrados.

Mesmo na minha infância, no meu período de colorado fanático, eu já observava isso. Lembro de uma ex-cunhada minha que era gremista doente. Um jogador fez uma bobagem e ela disse: "Esse cara é um idiota." Fiquei com aquela frase na lembrança por todos esses anos. Um sujeito a quem ela nem conhecia, não sabia se era honesto, correto, de bom caráter, foi chamado de "idiota" porque errou uma jogada. E assim um time inteiro, quando perde, aos olhos da torcida, vira um bando de idiotas.

Comparem com o que acontece em outros esportes. A ginasta Daiane dos Santos decepcionou na Olimpíada. Não vamos negar. Mas nem por isso foi hostilizada. Pelo contrário, a postura da torcida era contemporizadora, tudo bem, valeu o esforço, melhor sorte na próxima vez. E com isso ela teve tranqüilidade para se recuperar e buscar novas vitórias. Tanto quanto eu veja, o mesmo ocorre com o tenista Guga e outros esportistas brasileiros que se destacam em suas modalidades. Não são obrigados a vencer. Mas têm o apoio sincero e carinhoso da torcida.

O principal argumento do goleiro gremista para se afastar foi a zombaria enfrentada na escola por seu filho de sete anos. Pode haver crueldade maior? Seu pai talvez não esteja correspondendo ao que a torcida esperaria, mas é um profissional honesto, de mérito, correto, competente, ou não estaria lá, titular da posição, ganhando sei lá quantas vezes mais do que eu e você juntos. Mas a torcida não perdoa. E essa gana doentia passa de pai para filho e vai desembocar num inocente que com certeza não tem condições sequer de entender o que está acontecendo. Por que seu pai, que aos olhos do filho é uma pessoa boa, é tão mal falado na escola?

Eu não tenho dúvidas: não há mais alegria no futebol. O que existe é uma cobrança perversa de que os jogadores nos dêem vitórias para compensar nossas frustrações e justificar seus salários. Em meio à crise, a torcida gremista teria a chance de se mostrar incentivadora do clube nos bons e nos maus momentos. Mas nem isso está sabendo fazer. E assim, o goleiro Eduardo se retira solenemente, para salvaguardar sua família de uma hostilidade que o dinheiro já não consegue amenizar.

sábado, maio 07, 2005

Dia das Mães

Pensei em escrever algo sobre o Dia das Mães, mas nada resumiria melhor o que a minha mãe significa para mim do que este texto que publiquei no ano passado. Então, quem não leu, aproveite para ler agora. E parabéns a todas as mães que visitam o meu blog!

sexta-feira, maio 06, 2005

Termos da moda

Certa vez eu estava examinando perfis num site de namoro virtual quando me deparei com a seguinte frase: "Não estou nessa de cumplicidade porque não pretendo assaltar um banco!" Tive que achar graça. E aí percebi que não faz tanto tempo assim que essa palavra passou a ser usada como sinônimo de companheirismo. A primeira vez em que ouvi algo parecido foi quando conheci a música "A Cúmplice", de Juca Chaves, que o próprio considera sua melhor composição. No início havia um quê de originalidade em usar o termo para definir uma característica desejável nas relações amorosas. Hoje, ao que tudo indica, encaminha-se para o desgaste. Mas todos dizem que querem um relacionamento "com cumplicidade". Acho que é para ter certeza que os bens serão divididos igualmente no caso de separação.

Outra palavra da moda já há algum tempo é transparência. A empresa que não incluir transparência entre as suas características terá uma vantagem a menos em relação a seus concorrentes. Quem procura uma empresa para realizar algum serviço já deveria perguntar de cara: "Vocês têm transparência?" E correr o risco de ouvir a resposta: "Não, não trabalhamos material de retroprojetor." Nesse aspecto, as vidraçarias são imbatíveis. Ah, também no ramo de serviços, todas as empresas têm que ter um diferencial. Não importa o que seja, mas têm que ter. Aí, no mesmo telefonema, vale perguntar também: "Qual o diferencial de vocês?" "Como assim?" "Diferencial, ora! Ah, já vi que vocês não têm". "Um momentinho, senhor. Fulano, nós trabalhamos com diferencial?"

No caso de currículos apresentados por candidatos a empregos, nada de dizer que tem iniciativa. Esse termo é antiquado. Hoje em dia o bom empregado é pró-ativo. Esse quesito é indispensável! Se eu tivesse uma empresa ou fosse gerente de recursos humanos, jamais contrataria alguém que não se anunciasse como pró-ativo, imagina! Se a secretária me dissesse: "Chegou uma pilha de currículos, o senhor quer olhar agora?" Eu responderia: "Por favor, dá uma olhada e só me passa os pró-ativos, tá?"

Jogador de futebol também tem seu script decoradinho. Nos anos 70 eles diziam: "É, vai ser um jogo difícil, o adversário merece respeito, mas estamos preparados e se Deus quiser vamos conseguir um bom resultado". Já hoje entrou uma palavra nova no discurso: humildade. Em algum ponto da frase acima deve-se inserir a expressão "com humildade". E os contratos provavelmente devem conter uma cláusula pela qual o jogador se compromete a usar a palavra humildade pelo menos uma vez nas entrevistas.

E o que significa dizer que um trabalho, um projeto ou um texto está bem redondo? Se isso quer dizer sem falhas, então quanto mais gordo, mais perfeito! Como um músico se sentiria se eu lhe dissesse: "Parabéns, o seu CD está bem redondo!" "Queria que fosse quadrado?" "Ora, no tempo do vinil existiam os shaped picture discs." Ou então: "Seus pais são muito quadrados?" "Não, eles são bem redondos." Entenda como quiser.

quinta-feira, maio 05, 2005

O velho e o novo

Todos os fanáticos por música, após uma certa idade, começam a dizer a mesma coisa: "A música do meu tempo é que era boa. Depois de tal década não apareceu nada que prestasse." E como vejo diversos jovens que não eram nem nascidos na época curtindo o som que eu ouvia nos anos 70, ou mesmo grupos dos anos 60 que eu vim a descobrir depois, sinto a minha teoria plenamente justificada. Não é impressão: a música do meu tempo era realmente melhor. Ou não?

Lembro das discussões sobre música que eu tinha com o meu pai. Ele argumentava que a diferença entre as músicas do tempo dele e as do meu é que as da geração dele eram eternas, tinham "ficado", enquanto as de minha época eram efêmeras. Eu apresentava o contra-argumento óbvio de que só o tempo mostraria se as músicas do meu tempo "ficariam" ou não e algumas dos anos 60 até já haviam se tornado clássicas, como algumas dos Beatles, por exemplo. Além disso, quem podia garantir que todas as músicas do tempo dele eram lembradas? Muitas podem não ter resistido ao filtro do tempo.

E vejo minha teoria se confirmar. Rádios como a Antena 1 e a Continental FM tocam em suas programações sucessos dos anos 70 que eu vi surgir e hoje são atemporais. "Hotel California" dos Eagles, "Guitar Man" do Bread, "You’ve Got a Friend" com James Taylor, "Me and Mrs. Jones" com Billy Paul, tudo isso era novidade no meu tempo. Sem contar discos que eu lembro quando foram lançados e hoje são antológicos, como "Dark Side of The Moon" do Pink Floyd e o "Led Zeppelin IV". Então, meu pai, desculpe, mas eu estava certo. As músicas do "meu" tempo também ficaram.

Mas agora vamos repensar o outro aspecto do dogma. Será mesmo que não se fez mais nada de interessante na música nos últimos anos? Ou eu é que não tenho mais a mesma disposição e entusiasmo para conhecer coisas novas? Não sei não... às vezes me surpreendo. Certa vez, num grupo de discussão sobre David Bowie, um fã recomendou o Air. Fui escutar trechos do CD "Moon Safari" na Internet e me apaixonei. Outra situação bastante comum é eu estar na Saraiva olhando CDs e me interessar pela música que está tocando. Foi assim que descobri o Zero 7, no mesmo estilo do Air. E assim também, no começo da semana escutei uma baladinha bem gostosa, lembrando Tears for Fears. Quis saber quem era. Keane.

Keane... Nunca ouvi falar. Não sei nem ao certo como se pronuncia. Mas já dei uma pesquisada na Internet. É um trio inglês relativamente novo que tem lançado o CD "Hopes and Fears". Já escutei trechos no site da Amazon e adorei. Não é nada de novo, é um estilo leve de som pop sem uso de guitarras. Mas muito bom. Aliás, não é surpresa o fato de que os grupos novos que me agradam são os que apenas reciclam as fórmulas da velha e boa música do "meu tempo". Boa música não se inventa, se imita. E os melhores grupos são os que, independente de imagem ou postura, criam temas agradáveis de se ouvir. Isso é que importa.

Então acho que deve ter, sim, muita coisa boa sendo feita por aí. Eu é que não conheço. Não tenho mais aquela curiosidade investigativa que me fazia pegar um LP na mão nos anos 70 e questionar: que grupo é esse de que nunca ouvi falar? Que tipo de música será? E pedia pra escutar. Hoje já nem me sobra tempo pra isso. Mas aceito sugestões. Keane já está anotado, vou comprar o CD. O que mais vale a pena conhecer? (Hip hop não, por favor!)

quarta-feira, maio 04, 2005

Segue a campanha


Esta "fotofofoca" é obra de meu sobrinho Ricardo como parte da campanha de seu blog para me fazer voltar a assistir aos jogos do Inter no Beira-Rio.

P.S. : Conforme ressalva já feita nos comentários, a parte gráfica da campanha está sendo elaborada pelo meu outro sobrinho, Rafael (do blog Patente de Idéias), irmão do Ricardo. Mas esta foto eu peguei do blog do Ricardo, mesmo.

Ah, como era grande!

Hoje a Zero Hora publica uma nota sobre um Super Hambúrguer que é servido no Denny’s Beer Barrel Pub em Clearfield, na Pensilvânia, Estados Unidos, mas não mostra fotos do dito cujo. Pois fui caçá-las na Internet e aqui estão neste site. Os ingredientes são: 4,7 quilos de carne, 25 fatias de queijo, uma xícara de pimenta, meia alface, dois tomates, duas cebolas e "um rio" de maionese, ketchup e mostarda. O jornal anuncia como novidade, mas pelo visto já é coisa antiga. Segundo a Zero Hora, o preço do sanduíche é 30 dólares, mas o site indicado diz que custa 23 dólares e 95 cents. Até hoje ninguém conseguiu vencer o desafio de comer o hambúrguer todo em menos de três horas. Olha, eu, num dia de muito apetite, tendo saltado a última refeição, talvez desse conta. Mas também não garanto.

P.S.: Se vocês entraram antes e viram duas carinhas mostrando a língua, sinto muito. Eu tentei fazer links diretos para as fotos, mas alguns sites conseguem evitar isso e colocar outra imagem no lugar. Em todo o caso, o link para a página em questão deve funcionar e as fotos estão lá.

Pensamento da hora

O problema não é ter insônia na hora de dormir, é ter sono na hora de acordar.

terça-feira, maio 03, 2005

Campanha do Ricardo

Meu sobrinho Ricardo resolveu lançar uma campanha no blog dele para me fazer a voltar a freqüentar o Beira-Rio. Ele acha que eu era pé-quente e, se eu voltar, o Inter poderá reviver seus anos de glória. Valeu, Ricardo, mas eu ando meio solitário, precisando conhecer umas companhias novas, e em estádio de futebol geralmente só tem homem!

Especial Bee Gees

Atenção: houve mudança na agenda da Sunset Riders. O Especial Bee Gees foi antecipado para 11/05, ou seja, quarta-feira da semana que vem. O show do dia 19 fica em suspenso até segunda ordem. E foi acrescentado um show genérico no dia 25, quarta-feira, véspera de feriado. O local continua o mesmo: John Bull Pub, no Shopping Total.

Outra ironia

A capa da Zero Hora tem como título principal: "Argentina expõe novas frentes de atrito com Brasil". Já a capa do caderno "Viagem" faz chamada para uma matéria sobre passeios a Buenos Aires (e também Montevidéu). Definitivamente, está aberta a temporada das coincidências infelizes - vide o livro sobre o Grêmio, abaixo.

Que peninha...

Não é irônico que, no momento em que o Grêmio está na Segundona do Campeonato Brasileiro e ficou em terceiro no Gauchão, saia um livro com o título de "Grêmio: Nada Pode Ser Maior"? Sei que o título deve ter sido escolhido lá no começo do projeto, mas está sendo lançado na pior hora possível. O autor é Eduardo Bueno (Peninha).

segunda-feira, maio 02, 2005

O não disfarçado

Existem muitas maneiras de dizer não. Em geral são poucas as pessoas que dizem essa palavra diretamente, embora seja apenas um monossílabo. Mas que monossílabo mais constrangedor! Não sei o que é mais complicado: dizer ou ouvir. Como as pessoas fogem do não! Preferem usar eufemismos. E um bom termômetro de vivência e perspicácia é saber entender esses nãos disfarçados.

A forma mais comum de não indireto talvez seja a de dizer que "não dá". A expressão contém o não de qualquer forma, mas o "dá" logo a seguir ameniza a frieza da negativa. A maioria capta a mensagem e não toca mais no assunto. Mas outros, ah, outros insistem. "Por que não dá, claro que dá!" Cobram. Reiteram. Você responde que não é possível e eles contra-argumentam que você está enganado, é possível, sim. E até lhe provam isso. Você fica numa péssima situação. E você acaba tendo que dizer com todas as letras: "Não dá porque eu não quero!"

Um método sutil é dizer: "anotamos o seu telefone, qualquer coisa, ligaremos". E tem gente que, santa ingenuidade, ainda fica na expectativa, esperando o telefone tocar. Também na Internet começam a surgir evasivas semelhantes. Você acha o e-mail de alguém – uma pessoa famosa, por exemplo – manda uma mensagem e vem a resposta: "Estou saindo de viagem e devo ficar um tempo fora, na volta entrarei em contato". Pode esperar sentado.

Outra forma de não bastante usual é: "Vai ficar para outra oportunidade". Essa é a recusa padrão de uma proposta ou algo semelhante. O que o interlocutor está querendo dizer é: "não vamos colocar a idéia em prática". Pronto, entende quem quiser. Se alguém ouvir que uma sugestão "vai ficar para outra oportunidade" e ficar aguardando que a oportunidade surja, é porque não caiu a ficha.

Já os políticos têm uma forma toda especial de fugir de uma reivindicação. Na falta de argumentos mais consistentes, eles dizem que "não é hora" de falar no assunto. "Não é hora de falarmos em voto facultativo". "Não é hora de falarmos em reforma agrária". E assim eu imagino que, em algum momento da História do Brasil, alguém deve ter dito que "não é hora" de falar em abolição da escravatura, "não é hora" de falar em Proclamação da República e por aí vai. E a gente lembra do Geraldo Vandré: "quem sabe faz a hora, não espera acontecer".

Eu gostaria de citar outros casos, mas não dá. Não é hora. Vão ficar para outra oportunidade.